Na última quinta-feira, 20 de março, o Sebrae Nacional promoveu um bate-papo em alusão ao Mês da Mulher, com o tema “Mulheres e homens na liderança: será que os desafios são os mesmos?”. O evento foi acompanhado por colaboradores das unidades estaduais do Sistema Sebrae e reuniu lideranças para discutir os obstáculos enfrentados por mulheres no mercado de trabalho, as diferenças nas trajetórias de carreira entre gêneros e a importância da equidade na construção de um ambiente corporativo mais inclusivo e diverso.
A liderança feminina ainda é um tema que desafia o mundo corporativo. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres representam 51,1% da população brasileira, mas ocupam apenas 37,4% dos cargos de gerência e direção. Além disso, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que, globalmente, as mulheres ganham, em média, 20% menos que os homens, mesmo desempenhando funções semelhantes. Esses números refletem uma realidade que vai além das competências técnicas: envolve estereótipos, cultura organizacional e desafios estruturais que precisam ser superados.
Foto: Focus Produção de Imagem
O painel, mediado por Margarete Coelho, diretora de Administração e Finanças do Sebrae Nacional, contou com a participação de Marcela Flores, presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (ANPEI); de Rose Rainha, superintendente do Sebrae no DF; e de Manuel Henrique Ramos, presidente do Conselho Deliberativo Estadual do Sebrae/SP, que participou virtualmente.
Margarete abriu o debate com uma reflexão sobre a educação das novas gerações: “Como estamos educando nossos filhos? Estamos ensinando a eles que também são responsáveis pela divisão das tarefas domésticas e pelo compromisso com as pautas humanitárias?”. Ela destacou a importância de repensar os papéis de gênero desde a infância, questionando os estereótipos que ainda persistem na sociedade.
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Em seguida, Marcela Flores complementou a discussão ao destacar que, enquanto os homens muitas vezes se candidatam a vagas mesmo sem atender a todos os requisitos, as mulheres tendem a ser mais exigentes consigo mesmas, o que pode limitar suas oportunidades. “As mulheres leem todos os requisitos e, se não atendem a algum deles, muitas vezes decidem não se candidatar. Já os homens não têm tanta resistência em se colocar, mesmo que não atendam a todos os requisitos”, afirmou Marcela, reforçando a ideia de que as mulheres enfrentam uma autocobrança maior e um nível menor de tolerância ao risco.
Rose abordou os desafios específicos das mulheres que conciliam carreira e maternidade. “A mulher que se afasta para a licença-maternidade enfrenta dificuldades para retomar seu espaço na empresa. Além disso, a sociedade impõe a ela a responsabilidade de cuidar da casa e dos filhos. Quando as crianças chegam em casa, a mãe já está lá, assumindo as tarefas”, afirmou.
A dirigente do Sebrae no DF explicou que, para alcançar posições de liderança, a mulher precisa estar disposta a renunciar a muitas coisas. Rose citou como exemplo a rotina de Margarete Coelho, que quase diariamente enfrenta horas de viagem para cumprir suas obrigações.
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Na sequência, ao citar o filósofo Zygmunt Bauman, Margarete comentou sobre o feminismo e como ele é um movimento político relevante da atualidade, pois luta por causas que fazem sentido para a sociedade. “O feminismo não é uma guerra de sexos, mas um convite para caminharmos juntos, dividindo e acolhendo. Parece que nasce em nós essa vontade de cuidar e ajudar. O feminismo conjuga muito o verbo ‘cuidar’ e, por este motivo, precisamos entender do que se trata e para onde vamos quando falamos sobre a equidade dos gêneros”, observou.
Manuel Henrique trouxe uma perspectiva histórica sobre a evolução da participação feminina no mercado de trabalho. “No feudalismo, a mulher estava limitada ao ambiente doméstico: preparar refeições, cuidar das roupas e da educação dos filhos. Com a Revolução Industrial, ela foi chamada para o mercado de trabalho e não largou mais. Hoje, vemos uma participação feminina maior nas universidades e em setores como o judiciário, onde há mais juízas do que juízes”, explicou.
O dirigente do Sebrae/SP também destacou a importância da empatia e do combate ao ranço histórico que ainda persiste no inconsciente coletivo. Citando Simone de Beauvoir, ele lembrou que “não se nasce mulher, torna-se mulher”, reforçando o papel essencial da educação e da sensibilidade feminina. “A mulher tem uma sensibilidade diferente para lidar com as pessoas, especialmente com as crianças. Isso precisa ser reconhecido e valorizado quando pensamos na construção de uma sociedade fraterna e inclusiva”, assegurou.
Rose Rainha complementou a discussão sobre sensibilidade feminina e equidade de gênero, ponderando sobre como a mulher se organiza para conciliar a vida privada com a carreira. “O afeto é inerente à mulher, mas precisamos do apoio dos homens para construir nossa jornada, assim como eles também precisam do nosso. Acredito que estamos plantando a semente de que a liderança feminina está sendo vista como fundamental para as relações”, disse.
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