A informação, confirmada pelo Poder360 nesta 4ª (12.nov.2025), representa um revés para uma das principais apostas do Brasil para o financiamento climático.
Além da China, outros países relevantes confirmaram que não farão anúncios de aportes ao TFFF, pelo menos não agora. Estados Unidos, Reino Unido e Espanha estão na lista. A Alemanha afirmou que fará uma contribuição “considerável”, mas não detalhou valores nem prazos. A Holanda informou que ainda estuda se irá apoiar a iniciativa.
A decisão chinesa foi confirmada por fontes oficiais do país asiático. Segundo o governo, a China pretende “contribuir de outras formas“, mas não realizará aportes em dinheiro ao mecanismo brasileiro de proteção florestal.
O governo brasileiro segue em contato com a delegação chinesa durante a COP30. Fontes ligadas ao Itamaraty e à presidência contestam a informação –afirmam que a China não confirmou que deixará de fazer aportes. Segundo essas fontes, o país asiático deu um bom sinal de investimento durante a última reunião bilateral.
O TFFF foi lançado oficialmente na abertura da Cúpula de Líderes, em 6 de novembro, como principal iniciativa do governo brasileiro para aliar investimentos e negócios sustentáveis. O fundo foi desenhado para operar com US$ 125 bilhões, sendo US$ 25 bilhões em recursos públicos e US$ 100 bilhões de capital privado.
As negociações envolvem conversas bilaterais com países florestais e com potenciais investidores, públicos e privados, para aumentar o nível de adesão à declaração e avançar a capitalização do fundo.
Até o momento, o fundo recebeu compromissos de US$ 5,58 bilhões. A maior contribuição veio da Noruega, que prometeu US$ 3 bilhões ao longo de 10 anos, condicionados à captação de US$ 10 bilhões até o fim de 2026. Além do Brasil, França, Indonésia e Portugal também anunciaram aportes.
A China está entre os 53 países que endossaram a declaração de apoio ao TFFF. O país participa da lista de 20 potenciais investidores sem florestas tropicais que poderiam contribuir financeiramente com o mecanismo.
COMO FUNCIONA O TFFF
O fundo quer que países que preservam florestas tropicais sejam financeiramente recompensados por meio de investimento internacional. O modelo estabelece o pagamento de US$ 4 por hectare de floresta preservada, mas isso só será feito depois que o fundo estiver completamente capitalizado.
O Banco Mundial atuará como agente fiduciário e gestor inicial do mecanismo. A estrutura terá monitoramento por satélite com padronização internacional e dados públicos acessíveis para garantir transparência.
Os lucros serão distribuídos aos países com florestas tropicais proporcionalmente à área conservada. O capital investido retornará ao investidor com rendimento. O fundo também estipula repasse mínimo de 20% para povos indígenas e comunidades locais.
TENSÕES NO FINANCIAMENTO CLIMÁTICO
O TFFF é uma iniciativa extra-COP, ou seja, não faz parte das negociações oficiais da conferência. No entanto, o tema do financiamento climático está no centro dos debates durante o evento em Belém.
Os países saíram frustrados da COP29, em Baku, onde foi definida a NCQG (Nova Meta Coletiva Quantificada de Financiamento Climático). A decisão estabeleceu US$ 300 bilhões anuais até 2035, muito abaixo dos US$ 1,3 trilhão solicitados pelos países em desenvolvimento.
A presidência brasileira conduziu o chamado “roteiro Baku-Belém“, que deveria indicar como alcançar o US$ 1 trilhão que ficou de fora da decisão. O documento foi criticado por ter sido elaborado sem consulta adequada às partes.
No começo da semana, a conferência abriu com consenso na agenda: um sinal de que as deliberações poderiam começar já na abertura. Porém 4 temas polêmicos foram levados para consultas paralelas durante a COP30:
- implementação do Artigo 9.1 do Acordo de Paris – obrigação de provisão de financiamento por países desenvolvidos;
- medidas unilaterais restritivas ao comércio – restrições comerciais baseadas em critérios ambientais;
- resposta ao relatório de síntese sobre as NDCs – lacuna de ambição e implementação da meta de 1,5°C;
- síntese dos relatórios bienais de transparência (BTRs) – acompanhamento do progresso climático dos países.
