
Este relatório sobre o estado do clima global (State of the Climate Report 2025) foi elaborado por uma equipe internacional de pesquisadores, incluindo pesquisadores do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático (PIK). Os autores principais são pesquisadores da Universidade Estadual do Oregon. O relatório foi publicado há alguns dias na revista BioScience.
Ele se baseia em dados globais do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Merecem destaque as propostas de estratégias altamente eficazes que contém.
Sinais vitais que batem recordes
O diretor do PIK, Johan Rockström, é um dos autores do relatório. Ele fez a seguinte declaração em uma coletiva de imprensa durante a apresentação do documento:
A crise climática acelerada representa uma série de riscos intimamente interligados para os sistemas fundamentais do nosso planeta – desde pontos de inflexão críticos, como o sistema de correntes oceânicas da AMOC (Circulação Meridional de Revolvimento do Atlântico), até a integridade da biosfera e a estabilidade dos recursos hídricos globais. O relatório também mostra, no entanto, como essa ameaça sem precedentes ao sistema terrestre – e à sociedade – pode ser mitigada.
2024: o ano mais quente desde o início dos registros
A equipe de pesquisadores enfatiza o aquecimento global acelerado, que também é evidente no fato de 2024 ter sido o ano mais quente desde o início dos registros.
No entanto, é preciso notar que a janela de oportunidade está se fechando. Sem estratégias eficazes, a humanidade enfrentará riscos crescentes que colocarão em perigo a paz, a governabilidade, a saúde pública e os ecossistemas.
A equipe examinou e identificou pacotes eficazes de medidas que incluem estratégias para diversos setores, como energia, meio ambiente e o sistema alimentar global. Este é um aspecto singular do estudo, pois identifica opções viáveis para esses setores que, individualmente e em conjunto, poderiam reduzir as emissões de gases de efeito estufa e, assim, deter o aquecimento global.
Principal fator impulsionador: o setor energético
Como era de se esperar, os pesquisadores se concentraram particularmente em fontes de energia renováveis. De acordo com suas análises, a energia solar e eólica têm o potencial de suprir até 70% da demanda global de eletricidade até 2050. A transição energética deve ser acompanhada por uma rápida eliminação gradual dos combustíveis fósseis, pois essa é a única maneira de dar a contribuição significativa necessária para a proteção climática.
Essa demanda científica fundamental não é apenas enfatizada neste estudo, mas é um componente central de quase todos os estudos atuais e passados voltados para uma redução rápida e abrangente das emissões de gases de efeito estufa.
Ecossistemas: um pilar da proteção climática
No estudo, os pesquisadores calcularam que a proteção e a restauração de ecossistemas como florestas, pântanos, manguezais e turfeiras poderiam compensar ou evitar a emissão de aproximadamente 10 gigatoneladas de CO₂ anualmente até 2050. Isso corresponde a cerca de 25% das emissões anuais atuais. Esse cálculo, é claro, só se mantém válido se as emissões de gases de efeito estufa não aumentarem ainda mais nos próximos anos e décadas, mas diminuírem significativamente, conforme necessário. Outro benefício seria a proteção e a preservação da biodiversidade e a segurança hídrica.
Muitas vezes negligenciada, mas crucial: a alimentação
O uso intensivo e extensivo da terra tem prejudicado severamente os ecossistemas. 29% da superfície da Terra é composta por terra. Desse total, 71% é habitável. No entanto, pouco mais de 1% da área terrestre é efetivamente habitada. 50% é utilizada para a agricultura. 37% é floresta, 11% é vegetação arbustiva e o restante, 1%, é água doce superficial.
Dos 50% de terras agrícolas, 77% são direta e indiretamente utilizados para a pecuária, ou seja, para a produção de carne e laticínios, incluindo pastagens e terras aráveis para a produção de ração animal. Apenas 29% é utilizado para o abastecimento alimentar de origem vegetal.
Segundo o relatório, a produção de alimentos e o descarte de resíduos alimentares representam aproximadamente 8 a 10% do total das emissões de gases de efeito estufa. Considerando a distribuição de terras mencionada anteriormente, não é certo que uma mudança para uma dieta mais baseada em vegetais leve a uma redução significativa das emissões. O relatório enfatiza, ainda, que a saúde e a segurança alimentar da população global também seriam melhor protegidas por uma mudança nos hábitos alimentares e nas práticas agrícolas.
Os alertas
O relatório reforça alertas científicos já conhecidos: cada décimo de grau de aquecimento adicional acarreta sérias consequências para o bem-estar humano e ambiental. Por outro lado, cada décimo de grau de redução proporciona alívio.
Mesmo pequenas melhorias têm um impacto significativo no risco de eventos climáticos extremos, perda de biodiversidade, escassez de alimentos e água e nos riscos associados à ultrapassagem de pontos de inflexão críticos.
A equipe de pesquisadores enfatizou que adiar a ação levará a custos mais elevados e impactos mais severos, enquanto uma ação rápida e coordenada terá um impacto global imediato sobre as populações e os ecossistemas.
Referência da notícia
The 2025 state of the climate report: a planet on the brink. 29 de outubro, 2025. Ripple, et al.
