
Um estudo brasileiro inovador utiliza uma ferramenta inusitada para detectar contaminação por petróleo em peixes: uma máquina de café comum (cafeteira). O método tem como objetivo principal garantir a segurança alimentar e proteger os peixes e o ecossistema marinho no Brasil.
Como a cafeteira ajuda a ciência?
Primeiro, vamos explicar como surgiu a pesquisa. Em agosto de 2019, o Brasil enfrentou o maior derramamento de petróleo cru da história (mais de 5 mil litros), que atingiu mais de 2 mil quilômetros do litoral das regiões Nordeste e Sudeste, contaminando praias e ecossistemas marinhos. Naquela época, o país não dispunha de métodos analíticos validados para essa situação de emergência (para quantificar a contaminação em animais marinhos), e os existentes eram caros e demorados.
E este episódio foi o ponto de partida para a pesquisa. Ana Paula Zapelini de Melo, doutora em Ciência dos Alimentos pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), foi então atrás de uma solução inovadora e improvisada: uma cafeteira. Isso mesmo, uma máquina de café espresso comum que muitos tem em casa hoje em dia.

A pesquisa então adaptou as cafeteiras em equipamentos laboratoriais para simular a técnica de extração por líquido pressurizado, a qual emprega alta temperatura e pressão para extrair substâncias. E as máquinas extraíram os hidrocarbonetos dos peixes de forma mais rápida e eficiente do que os métodos tradicionais de laboratório.
O objetivo do estudo era identificar e quantificar a presença de contaminantes petrogênicos (derivados de petróleo) em amostras de pescado (peixe que foi retirado da água para consumo) . Então, a cafeteira adaptada foi usada para extrair os contaminantes do tecido do pescado.
Na prática, como isso funciona? O método consiste em colocar as amostras de pescado dentro das cápsulas de café espresso, com o solvente sendo forçado através da matriz, simulando um processo químico geralmente realizado em equipamentos mais caros.
Este método teve sucesso, e com a aquisição de um equipamento específico para uso laboratorial, o processo foi otimizado, ficando mais rápido e automatizado.
O reconhecimento
Atualmente, o método é utilizado de forma oficial nos Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária do Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), sendo o primeiro protocolo oficial do Brasil para monitoramento de contaminantes petrogênicos em pescados.
O trabalho de doutorado da pesquisadora, que envolve este método, venceu o ‘Prêmio CAPES de Tese 2024‘ na área de Ciência de Alimentos.
Além disso, o método também recebeu reconhecimento internacional. Ele foi agraciado com o prêmio ‘MIT Innovators Under 35′, ligado ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT); foi celebrado na Brazil Conference at Harvard & MIT; e recebeu Menção Honrosa do Conselho Federal de Química.
Referências da notícia
Pesquisadora brasileira usa cafeteira para detectar contaminação em peixes. 12 de novembro, 2025. Luiza Souto.
Método pioneiro usa máquina de café para identificar contaminação em peixes. 13 de novembro, 2025. Bruna Barone.
