Um novo relatório internacional revela que florestas e árvores funcionam como aliadas vitais do agro, reduzindo calor, regulando chuvas, protegendo solos e trabalhadores rurais em um clima cada vez mais extremo e ampliando segurança hídrica e alimentar.

Quando se fala em clima e agricultura, a conversa costuma girar em torno de fertilizantes, irrigação e novas sementes. Mas um relatório técnico recém-lançado por FAO, SEI, The Nature Conservancy e Conservation International traz uma virada de chave: florestas e árvores não são apenas “áreas de conservação”, e sim peças centrais da produtividade no campo.
O documento reúne evidências científicas de vários continentes mostrando como a derrubada de florestas encurta a estação chuvosa, intensifica ondas de calor, piora a qualidade da água e aumenta o estresse térmico de quem trabalha ao ar livre. Ao mesmo tempo, sistemas com mais árvores, de matas ciliares a agroflorestas, conseguem estabilizar a produção, reduzir custos com insumos e reforçar a segurança alimentar.
Árvores como ar-condicionado natural do campo
O relatório mostra que florestas exercem um papel pouco lembrado: funcionam como um sistema de resfriamento natural em várias escalas. Folhas e copas liberam vapor d’água (evapotranspiração), que ajuda a baixar a temperatura do ar e manter a umidade, enquanto a sombra reduz o superaquecimento do solo.

Em áreas tropicais, a conversão de floresta em lavoura já reduziu a evapotranspiração em cerca de 30% em partes do Brasil, elevando as temperaturas locais; estudos indicam que restaurar parte dessas áreas poderia derrubar a temperatura da superfície em aproximadamente 1 °C.
Em paisagens desmatadas, trabalhadores rurais já perdem mais tempo de trabalho seguro por dia e, com mais 2 °C de aquecimento global, essa perda pode chegar a até cinco horas diárias em algumas regiões, um baque direto na renda e na produção de alimentos.
Serviços invisíveis: água, solo, polinizadores e controle de pragas
Florestas e árvores também comandam a “engenharia da água” que sustenta as lavouras. Ao liberar umidade para a atmosfera, elas ajudam a formar e manter chuvas a centenas de quilômetros de distância. Uma análise citada no relatório indica que áreas agrícolas de 155 países dependem de florestas em outros territórios por até 40% da precipitação anual.

Além da água, as árvores entregam um pacote de serviços ecológicos que raramente entram na conta do custo de produção, mas fazem diferença no bolso:
- Polinizadores mais diversos, aumentando a frutificação de culturas como café, frutas e oleaginosas.
- Mais inimigos naturais de pragas, reduzindo a pressão de insetos e a dependência de inseticidas.
- Ciclagem de nutrientes, formação de solo e controle de erosão, que mantêm a fertilidade por mais tempo.
- Microclimas mais amenos, com sombra e maior retenção de umidade no solo.
- Biomassa para forragem, lenha e cobertura morta, ajudando a fechar ciclos dentro da própria propriedade.
Em sistemas integrados, com árvores nas bordas, faixas de proteção ao longo de cursos d’água ou agroflorestas, esses serviços se somam e podem reduzir a necessidade de insumos externos, ao mesmo tempo em que aumentam resiliência a secas e extremos.
Brasil rural entre desmate e calor
No Brasil, esse debate é ainda mais urgente. O país combina uma das maiores fronteiras agrícolas do planeta com florestas tropicais de importância global, como Amazônia e fragmentos no Cerrado e na Mata Atlântica.
Ao mesmo tempo, paisagens em mosaico, com clareiras menores cercadas por floresta, matas ciliares conservadas e árvores em pastagens, experimentam menos aquecimento e mantêm mais serviços ecológicos.
Em um país que sente na pele extremos de calor, seca e chuva, florestas podem ser o diferencial entre uma safra quebrada e um sistema realmente resiliente.
Referência da notícia
Climate and ecosystem service benefits of forests and trees for agriculture. 18 de novembro, 2025. FAO.
