O BC (Banco Central) confirmou nesta 3ª feira (23.dez.2025) que houve reuniões com o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Em nota (leia ao final desta reportagem), a autoridade monetária afirma que os encontros foram “para tratar dos efeitos da aplicação da Lei Magnitsky”. O magistrado sofreu sanções dos EUA, que retiraram a punição em 12 de dezembro.
O presidente do BC, Gabriel Galípolo, conversou diversas vezes com Moraes nos últimos meses. A autarquia, entretanto, não cita o caso envolvendo o Banco Master.
O contexto da boataria sobre a pressão de Moraes, nunca confirmada, torna-se mais complexo porque a advogada Viviane Barci, mulher de Moraes, foi contratada pela instituição financeira. Seus honorários seriam de R$ 3,6 milhões por mês, por 36 meses, totalizando aproximadamente R$ 129 milhões ao final da prestação de serviços.
Essas informações foram divulgadas pela jornalista Malu Gaspar, de O Globo. O contrato entre Viviane Barci e o Master nunca foi divulgado na íntegra. Tampouco é conhecido quanto do acordo foi honrado, quais serviços exatamente foram prestados nem quantos pagamentos foram feitos. Viviane e o Master nunca contestaram os dados parciais já publicados.
Galípolo tem dito a quem o indaga sobre o fato que nunca sofreu pressão de qualquer natureza por parte de Moraes para que não fosse vetada a venda do banco para o BRB (instituição financeira estatal de Brasília) ou para que não houvesse um processo de liquidação. Sempre lembra seus interlocutores que o BC acabou vetando a venda para o BRB em 3 de setembro de 2025 e, depois, liquidou o Master em 18 de novembro.
Brasília tem sido inundada por esses rumores nos últimos pelo menos 2 meses. Ainda em outubro de 2025, o Poder360 ouviu de 2 banqueiros na região da av. Faria Lima (onde se concentram os operadores financeiros e bancários) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) relatava saber que Moraes havia telefonado para Galípolo 5 vezes num único dia. Esses contatos, além de um encontro pessoal, teriam coincidido com a propagação da notícia sobre o iminente veto do Banco Central à operação de venda do Master para o BRB.
Os relatos ouvidos pelo Poder360 na Faria Lima indicam que teria sido o próprio presidente do Banco Central quem avisou ao presidente da República sobre as conversas. Na Faria Lima e dentro do STF, o boato ganhou corpo. Lula teria relatado esse episódio, em ocasiões diferentes, a vários interlocutores: banqueiros, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e ministros do STF.
O petista expressaria que Galípolo teria se sentido incomodado e que o chefe da autoridade monetária até teria mostrado uma mensagem de texto que recebera em seu celular do ministro do Supremo. O Poder360 apurou, entretanto, que Galípolo tem negado veementemente a todos que o abordam sobre a veracidade dessa narrativa a respeito de ter sofrido pressão por parte de Moraes.
De outubro para cá, quando surgiu a onda de boatos sobre as conversas entre Galípolo e Moraes, o Poder360 ouviu a mesma história com pequenas variações de diversas fontes, mas sempre com o mesmo sentido. Outros veículos jornalísticos também tiveram acesso a esses relatos. Gabriel Galípolo, sempre que abordado por interlocutores diversos, diz que nada procede.
Galípolo não negava ter mantido conversas com Moraes. Mas dizia que são contatos amistosos. O magistrado estava preocupado com a imposição dos Estados Unidos a ele de medidas com base na Lei Magnitsky –ação tomada em 30 de julho de 2025. A principal consequência da Magnitsky era que Moraes ficaria sem poder fazer operações financeiras nos EUA, mas tampouco em bancos brasileiros que mantivessem alguma operação em solo norte-americano.
Nesta 3ª feira (23.dez), Moraes disse em nota que as reuniões realizadas com Gabriel Galípolo e com dirigentes de instituições financeiras trataram exclusivamente das consequências da aplicação da Lei Magnitsky.
Leia a íntegra da nota do BC publicada nesta 3ª feira (23.dez):
“O Banco Central confirma que manteve reuniões com o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, para tratar dos efeitos da aplicação da Lei Magnitsky.”
STF E BANCO CENTRAL
Esse caso das conversas entre Galípolo e Moraes releva, mais uma vez, um traço idiossincrático dos Poderes da República no Brasil. É comum ministros do Supremo Tribunal Federal falarem com o presidente do Banco Central.
Em outros países, esse tipo de contato é incomum ou inexistente. Nos Estados Unidos, por exemplo, não há notícias de que o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, converse com magistrados do Supremo norte-americano nem seja procurado para falar sobre qualquer assunto que afete o Judiciário.
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