O ex-primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, foi condenado nesta 6ª feira (26.dez.2025) por todos os crimes de abuso de poder e lavagem de dinheiro no maior julgamento já concluído do escândalo bilionário envolvendo o fundo estatal 1MDB (1Malaysia Development Berhad). A decisão judicial pode ampliar as tensões políticas no país e trazer impactos diretos à coalizão governista.
O juiz Collin Lawrence Sequerah considerou Najib culpado em 4 acusações de abuso de poder e 21 de lavagem de dinheiro, relacionadas a desvios ocorridos enquanto ele ocupava o cargo de primeiro-ministro. A pena ainda não foi anunciada, mas o ex-líder pode receber condenações de 15 a 20 anos de prisão por cada crime, além de multa de até 5 vezes o valor das quantias desviadas.
Investigadores da Malásia e dos Estados Unidos afirmam que ao menos US$ 4,5 bilhões foram retirados ilegalmente do 1MDB, fundo criado em 2009 com participação direta de Najib. Segundo as autoridades, mais de US$ 1 bilhão teria sido direcionado a contas ligadas ao então premiê, que sempre negou irregularidades.
Na leitura da sentença, Sequerah rejeitou a tese da defesa de que o processo seria uma perseguição política. Segundo o magistrado, as provas apresentadas eram “frias, duras e incontestáveis” e demonstravam que Najib se valeu de sua posição de poder e da ampla influência que exercia sobre o fundo estatal.
O juiz também destacou a relação próxima entre Najib e o financista Jho Low, apontado como peça central no esquema. De acordo com a decisão, Low atuava como intermediário e representante informal do primeiro-ministro nos assuntos do 1MDB. Foragido, ele responde a acusações nos Estados Unidos e nega envolvimento nos crimes.
Najib sustentou que foi induzido ao erro por Low e por executivos do fundo, afirmando que os recursos depositados em suas contas seriam doações da família real da Arábia Saudita. O tribunal, porém, considerou a versão implausível e descartou cartas apresentadas pela defesa, classificadas como não comprovadas e possivelmente falsas. Para o juiz, as evidências indicam de forma inequívoca que o dinheiro teve origem no 1MDB.
A nova condenação se dá poucos dias depois de a justiça rejeitar um pedido do ex-primeiro-ministro da Malásia para cumprir pena em prisão domiciliar. A decisão reacendeu disputas na base do atual chefe de governo, Anwar Ibrahim, cuja aliança inclui a UMNO (United Malays National Organisation), partido da Malásia historicamente comandado por Najib e no qual ele ainda exerce influência.
Najib, de 72 anos, está preso desde agosto de 2022, quando a Suprema Corte manteve condenação por corrupção em outro processo ligado ao 1MDB. A pena original de 12 anos foi reduzida pela metade no ano passado por um conselho de perdões. A UMNO havia feito campanha contra Anwar nas eleições de 2022, mas acabou integrando a coalizão governista após o pleito resultar em um Parlamento sem maioria clara.
Depois da negativa da prisão domiciliar e a nova condenação, dirigentes da UMNO manifestaram frustração, enquanto integrantes da base de Anwar celebraram decisões judiciais nas redes sociais, ampliando o desgaste interno da aliança que sustenta o governo malaio.
