A China tem uma das maiores cargas de trabalho semanal do mundo. Segundo o Escritório Nacional de Estatísticas –portal de dados oficiais da China–, um chinês contratado por uma empresa trabalha, em média, 48,5 horas semanais. Ao cruzar os dados chineses com o painel da Organização Internacional do Trabalho, o país asiático fica no 1º lugar entre as principais economias do mundo.
Esse índice é impulsionado em parte por um aspecto de “cultura da hora extra” na China que consolidou um modelo que é combatido pelo governo chinês há anos. É a chamada “escala 996” –de 9h às 21h, 6 vezes na semana. Esse modelo foi proibido em 2021, mas ainda persiste no país asiático.
A lei trabalhista da China estabelece que a jornada de trabalho não deve ultrapassar 44 horas semanais. As horas extras em 1 mês não podem exceder 36 horas. No sistema 996, a carga semanal fica em 72 horas semanais.
A escala 996 é comum principalmente em empresas de tecnologia, por ser um setor de alta competitividade. O bilionário Jack Ma, fundador do Alibaba, era um dos empreendedores que abertamente defendia essa escala na década passada.

Segundo um estudo publicado em 2023 pela Universidade de Tecnologia do Sul da China, os motivos que fortaleceram essa cultura da hora extra vão desde elementos culturais chineses ao apetite das próprias empresas que empurram uma agenda de exploração dos trabalhadores. Leia a íntegra do estudo (PDF – 603 kB, em inglês).
No aspecto cultural, existe uma pressão grande da sociedade sobre os jovens para serem “bem-sucedidos”, em especial na geração dos filhos únicos em que eles concentram toda a expectativa da família.
Pelo lado econômico, as empresas estipulam metas para bônus salariais que podem obrigar o trabalhador a trabalhar mais que o limite permitido.
Por exemplo, uma empresa contrata um trabalhador com um salário de 1.000 yuans, mas no contrato o bônus mensal a partir de metas é de 1.000 yuans. Isso leva o trabalhador a perseguir esse bônus todo mês. Nesse modelo, 50% do salário fica dependente do bônus.
A pressão do governo para encerrar esse regime fez algumas empresas estabelecerem regras para “expulsar” os trabalhadores a partir de um determinado horário, proibindo as horas extras.
Em março de 2025, a empresa de eletrodomésticos Midea passou a obrigar os funcionários a bater ponto às 18h20. No mesmo mês, a fabricante de drones DJI proibiu os funcionários de trabalhar depois das 21h.
COMPARAÇÃO COM A 6 X 1 NO BRASIL
Segundo a Organização Internacional do Trabalho, um trabalhador brasileiro trabalha 38,9 horas semanais, cerca de 10 horas a menos do que o chinês. A estimativa é que 11% dos trabalhadores brasileiros trabalham mais do que 48 horas semanais, no que a organização classifica como “horas longas de trabalho”.
Nos últimos meses, o Brasil tem discutido como acabar com a escala 6 X 1. A pauta ganhou visibilidade nacional quando a deputada Erika Hilton (Psol-SP) apresentou uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que extingue o regime.
No Congresso, a proposta que ganhou tração não foi a de Erika, mas a do senador Paulo Paim (PT-RS). A PEC 148 de 2015, que determina uma redução da jornada máxima de trabalho de 44 para 40 horas semanais no 1º ano depois da aprovação do projeto foi aprovada pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado em 10 de dezembro e aguarda apreciação do Plenário.
O texto do Senado estabelece a redução de 1 hora semanal por ano até se chegar a 36 horas semanais. A proposta afeta a jornada de 34 milhões de trabalhadores brasileiros. Os dados são da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) e foram publicados no “Atlas da escala 6 X 1”. Leia a íntegra (PDF – 14 MB).
O fim da escala 6 X 1 será uma das bandeiras do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no ano eleitoral de 2026. Na 4ª feira (18.dez.2025), Lula disse que a economia brasileira está “pronta” para a extinção do modelo.
