
O solo possui uma “memória”, e essa memória pode ajudar as plantas a responder à seca, segundo uma nova pesquisa da Universidade de Nottingham e da Universidade de Kansas.
A pesquisa mostra que as comunidades microbianas no solo “lembram” climas e eventos ambientais passados, e essa memória influencia a forma como algumas plantas respondem a novas secas.
Legado climático
As secas estão se tornando mais frequentes e severas, impulsionadas pelas constantes mudanças climáticas. Essas secas representam uma grande ameaça para as plantações e os ecossistemas naturais.
A seca altera a microbiota do solo, selecionando características funcionais que preservam a aptidão em condições de seca. No novo estudo, os pesquisadores examinaram como as diferenças de longo prazo na precipitação moldam os microrganismos do solo e se essas mudanças influenciam a forma como as plantas respondem a futuras secas.
“As bactérias, os fungos e outros organismos que vivem no solo podem acabar tendo efeitos importantes em coisas que importam, como o sequestro de carbono, o transporte de nutrientes e, o que nos interessa particularmente, os efeitos residuais nas plantas”, disse Maggie Wagner, professora de ecologia e biologia evolutiva na Universidade do Kansas.
Os efeitos residuais ou memória ecológica descrevem como o estresse passado – neste caso, a seca – influencia a forma como a microbiota responde a futuros desafios ambientais. Mas o impacto dos efeitos residuais da precipitação sobre os microrganismos do solo e as plantas ainda não está claro, especialmente no contexto de futuras secas.
“Não entendemos realmente como funcionam os efeitos do legado climático”, disse Wagner. “Por exemplo, quais micróbios estão envolvidos no nível genético e como isso funciona? Quais genes bacterianos estão sendo influenciados? Também não entendemos como esse legado climático se move pelo solo até os micróbios e, eventualmente, até a planta”.
Variação das chuvas
Os pesquisadores analisaram solos de seis pradarias no Kansas, cada uma com níveis de precipitação muito diferentes. Eles identificaram micróbios e genes microbianos específicos ligados ao histórico de chuvas e, em seguida, testaram o efeito desses legados microbianos no desempenho das plantas durante um experimento controlado de seca.
Os resultados também mostram como a exposição histórica ao estresse hídrico remodela a microbiota do solo, influenciando, em última análise, a forma como certas espécies de plantas lidam com futuras condições de seca. O estudo revelou que micróbios de solos mais secos ajudaram uma gramínea nativa da pradaria a lidar melhor com a seca, mas não conferiram o mesmo benefício ao milho. O sequenciamento de RNA das raízes mostrou que os micróbios expostos a baixas precipitações anteriores apresentaram uma expressão alterada de genes de plantas envolvidos na transpiração e na eficiência intrínseca do uso da água durante a seca.

Os resultados também podem ajudar no desenvolvimento de culturas resistentes às mudanças climáticas no futuro, afirmou o Dr. Gabriel Castrillo, líder do grupo da Escola de Biociências da Universidade de Nottingham.
“As comunidades microbianas do solo têm a capacidade de se adaptar rapidamente às mudanças ambientais e ajudar as plantas a resistir ao estresse hídrico”, disse Castrillo. “Notavelmente, essas comunidades microbianas também podem ‘lembrar’ condições ambientais passadas, um fenômeno conhecido como efeitos de legado ou memória ecológica. Compreender esses legados microbianos pode nos ajudar a projetar sistemas agrícolas mais resilientes e proteger os ecossistemas sob o estresse climático futuro”, acrescentou ele.
Referência da notícia
Precipitation legacy effects on soil microbiota facilitate adaptive drought responses in plants. 30 de outubro, 2025. Ginnan, et al.
