
O Sistema Solar é apenas um entre bilhões de sistemas planetários existentes na Via Láctea. Ele é composto pelo Sol e seus 8 planetas, além da presença de luas, asteroides e material como rochas, gás e poeira. No caso do Sistema Solar, toda essa estrutura está localizada no Braço de Órion, que é uma região situada entre dois braços espirais maiores. Essa localização permite que não seja tão próxima do centro e nem tão longe, sendo um ambiente com um número bom de estrelas ao redor.
Assim como a Terra orbita o Sol, o Sistema Solar inteiro orbita o centro da Via Láctea, completando uma volta a cada 225 e 250 milhões de anos. Esse número é chamado de ano galáctico e a viagem tem uma velocidade de 220 km/s ao redor do centro galáctico. Mas a trajetória não é plana porque além do movimento circular, o Sistema Solar oscila para cima e para baixo em relação ao plano da galáxia. A componente vertical completa esse vai e vem a cada dezenas de milhões de anos.
Um novo estudo, porém, sugere que o Sistema Solar pode estar se movendo três vezes mais rápido do que a estimativa de 220 km/s. Essa revisão na velocidade pode afetar medidas cosmológicas como medidas de distâncias e estimativas da taxa de expansão do Universo. Isso porque muitas dessas medições dependem de correções da velocidade do Sistema Solar em relação a alguns pontos de referência. Se nosso movimento é muito maior do que pensávamos, parte dos desvios observados nas velocidades de galáxias próximas pode precisar ser reinterpretada.
Movimento do Sistema Solar
O Sistema Solar está localizado no Braço de Órion e se move junto com as estrelas em torno ao redor do centro galáctico. Segundo estimativas iniciais, o Sistema Solar viaja em conjunto a uma velocidade de 220 km/s e por isso acaba demorando mais de 200 milhões de anos para conseguir completar uma volta. Esse movimento ocorre em uma trajetória elíptica dentro do disco da galáxia e é causado pela interação com a distribuição de massa.
Em sua trajetória, o Sistema Solar também possui uma componente vertical. Em outras palavras, ele oscila para cima e para baixo em relação ao plano da galáxia com um período de dezenas de milhões de anos. Esse movimento é resultado das interações gravitacionais do disco galáctico e causa um movimento tridimensional do Sistema Solar. Assim, o movimento é uma combinação de rotação e oscilação ao longo do plano galáctico.
Não está orbitando o buraco negro supermassivo
No senso comum se imagina que o Sistema Solar assim como todas galáxias e sistemas planetárias orbitam justamente o buraco negro supermassivo. Isso se deve porque o objeto tem um campo gravitacional intenso e está localizado no centro da Via Láctea. No entanto, é importante ressaltar que essa ideia é errada e o Sistema Solar não orbita o buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea e nem estrelas e sistemas que estão localizados nas espirais da galáxia.
O buraco negro supermassivo Sagitário A* tem um raio de domínio gravitacional muito pequeno comparado ao tamanho da galáxia. Ele influencia apenas as estrelas que estão muito próximas, em escalas de alguns poucos anos-luz. A Via Láctea, porém, tem cerca de 100 mil anos-luz de diâmetro, e o Sistema Solar está a 26 mil anos-luz do centro. Nossa órbita ao redor do centro galáctico é um resultado do somatório das componentes da galáxia inteira.
3 vezes mais rápido!
Um grupo de astrônomos usou dados de uma rede de radiotelescópios para mapear a distribuição de galáxias que emitem na frequência do rádio. Como o comprimento de onda do rádio é um comprimento longo, ele consegue atravessar longas distâncias sem sofrer interação como, por exemplo, absorção e reemissão. A ideia que o grupo estava estudando é que a região que o Sistema Solar está indo em direção dá para observar melhor e mais galáxias emitindo rádio.

Quando os dados obtidos pelos radiotelescópios foram analisados, o grupo encontrou que o Sistema Solar parece estar se movendo mais de 3 vezes mais rápido do que o esperado. Segundo o artigo, os cálculos mostraram que o Sistema Solar se move cerca de 3,7 vezes mais rápido do que o valor obtido pelo modelo cosmológico. Os resultados ainda batem com observações de quasares distantes e objetos que brilham em infravermelho. Ou seja, duas abordagens diferentes convergem para o mesmo resultado.
Como isso afeta o que sabemos?
Se o Sistema Solar estiver realmente se movendo a uma velocidade muito maior do que a prevista, isso afeta diretamente como calibramos diversas medições cosmológicas. Muitas dessas medidas dependem de corrigirmos nosso próprio movimento em relação ao restante do Universo e são valores precisos que qualquer mudança afeta os resultados. Caso essa diferença seja confirmada, seremos obrigados a recalcular diversas constantes e valores que dependem de distância.
Outra possibilidade levantada pelo estudo é que a própria distribuição de galáxias emitindo em rádio pode ser menos homogênea do que assumimos antes. Caso essa hipótese seja correta, ela também questiona a ideia de isotropia, ou seja, de que o Universo é, em média, igual em todas as direções. Em ambos os cenários, seja por um movimento muito maior do que o esperado ou por uma distribuição anisotrópica de objetos distantes, será necessário encontrar mais evidências e, caso confirmado, uma reavaliação de modelos.
Referência da notícia
Böhme et al. 2025 Overdispersed Radio Source Counts and Excess Radio Dipole Detection Physical Review Letters
