Em 17 de dezembro de 2025, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que 2026 será “o ano da verdade”. O presidente falava a seus ministros na Granja do Torto, em Brasília. “Aquele que tiver que se afastar, se afaste, e, por favor, ganhe o cargo que vai disputar, não perca”. O político se referia ao fato de que terá de liberar a saída de pelo menos 22 integrantes de seu 1º escalão para as eleições. O prazo de desincompatibilização é abril, 6 meses antes do 1º turno em outubro.
Lula vai tentar obter seu 4º mandato no Palácio do Planalto. Por isso cobra compromisso político de seus atuais subordinados. A debandada será de 56% de seus 39 ministros. Em termos proporcionais, supera o esvaziamento de 2022, quando o então presidente Jair Bolsonaro (PL) perdeu 43% (10 dos 23 integrantes do 1º escalão) –à época foi a maior baixa em quase 25 anos. Em 2018, Michel Temer (MDB) viu 12 ministros saírem (41%), enquanto em 2014, Dilma Rousseff (PT) liberou 10 ministros (26%).
Entre os nomes cotados para sair estão integrantes do núcleo duro do Planalto. Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) deve disputar a Câmara pelo PT do Paraná. Fernando Haddad (Fazenda) é pressionado pelo partido para concorrer ao governo de São Paulo ou ao Senado, mas ainda não decidiu o que fazer. Já disse que vai deixar o governo federal, provavelmente em fevereiro. Rui Costa (Casa Civil) é candidato natural ao Senado pela Bahia.
Geraldo Alckmin (PSB), que além de vice-presidente é ministro de Indústria e Comércio, quer permanecer na linha sucessória –mesmo que seja cotado para desembarcar de novo em São Paulo para concorrer ao governo, a depender do xadrez político cuja peça-chave é o atual governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), opositor de Lula que pode tentar reeleição ou sair candidato ao Planalto.
Outros ministros com ambições eleitorais são Simone Tebet (Orçamento), que retornaria ao Senado pelo MDB (por Mato Grosso do Sul, seu domicílio eleitoral, ou mesmo por São Paulo), e Márcio França (Empreendedorismo), cotado para disputar o governo paulista pelo PSB.
Lula disse que pretende se reunir, no começo de 2026, com integrantes de seu 1º escalão que querem estar nas urnas em outubro. O petista disse ter conhecimento de que, se não forem 22, pelo menos 18 integrantes da Esplanada devem se desincompatibilizar.
O presidente ironizou a situação dos ministros que querem deixar o governo na reunião da Granja do Torto: “Quando você tira um ministro, ele chora. Mas quando ele quer sair, encontra todos os argumentos necessários e joga a responsabilidade no povo“.

“Ano da verdade”
A reunião na Granja do Torto durou cerca de 5 horas e teve presença também de presidentes de bancos públicos e líderes governistas no Congresso. O petista se referiu a 2026 como “o ano da verdade” em contraposição a 2025, definido por ele como “o ano da colheita“. Lula cobrou que os ministros dominem dados de todas as áreas do governo, não apenas da parte em que atuam, para defender as entregas da administração.
O presidente pressionou os partidos do Centrão que ainda não definiram apoio à sua reeleição. “Os partidos políticos e ministros terão de definir de que lado estão nas eleições“, disse. A mensagem foi direcionada especialmente ao PSD de Gilberto Kassab, mas também ao Republicanos, partido de Tarcísio que tem cargos no governo, e ao MDB.
O Centrão concentra os ministros mais interessados em vagas ao Senado. Por exemplo, o ministro do Esporte, André Fufuca, é filiado ao PP e quer disputar o Senado pelo Maranhão com apoio de Lula. Os ministros de Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, do Republicanos, e de Minas e Energia, Alexandre Silveira, do PSD, também devem disputar o Senado por Pernambuco e por Minas Gerais, respectivamente.
O PT deverá ter ao menos 5 baixas confirmadas no 1º escalão. São elas:
- Paulo Teixeira – o ministro do Desenvolvimento Agrário vai disputar uma vaga na Câmara dos Deputados por São Paulo;
- Luiz Marinho – ministro do Trabalho anunciou que deixará o governo em abril para tentar uma vaga de deputado federal, também por São Paulo;
- Gleisi Hoffmann – a ministra de Relações Institucionais é cotada para concorrer à Câmara pelo Paraná;
- Rui Costa – o titular da Casa Civil já conversou com Lula sobre disputar o Senado pela Bahia;
- Anielle Franco – a ministra de Igualdade Racial disse publicamente que avalia disputar uma vaga no Congresso pelo Rio, mas ainda não definiu se será para a Câmara ou para o Senado.
O presidente disputará em 2026 a reeleição para seu 4º mandato no Planalto. Ele governou o Brasil de 2003 a 2010 (2 mandatos consecutivos) e retornou ao Planalto em 2023. É o único presidente brasileiro eleito para 3 mandatos, em ocasiões distintas. Caso vença em 2026, será reeleito pela 2ª vez na carreira, outro feito inédito na história política do país.
