Na última semana, vários focos de incêndio foram registrados no estado de São Paulo. Muitos atingiram grandes proporções, causando morte de animais, perda de culturas agrícolas e prejuízos com infraestruturas rurais e urbanas.
Além do impacto econômico, social e ambiental, as queimadas afetam as propriedades físicas, químicas e biológicas dos solos. Grandes quantidades de carbono, nitrogênio, potássio e enxofre são perdidas para a atmosfera por volatilização durante a combustão.
De acordo com o pesquisador Alberto Bernardi, da Embrapa Pecuária Sudeste, especialista em solos, em longo prazo, essa alteração no solo causada pelo fogo tem consequências na biodiversidade e na manutenção de processos ecossistêmicos.
Pesquisas indicam que o fogo compromete a qualidade do solo e a produtividade no decorrer do tempo.
"A queima da cobertura vegetal deixa a área descoberta, levando a maior absorção da radiação solar, com ampliação da temperatura e do ressecamento ao longo do dia. Porém, à noite, ocorre a perda de calor pela exposição, elevando assim a amplitude das variações térmicas diárias”, afirma Bernardi.
Segundo ele, essas oscilações prejudicam a absorção de nutrientes e a biologia do solo. Outro problema é a erosão, pela ação do vento e o impacto da chuva, que leva à compactação ou selamento superficial. “O resultado é a menor infiltração de água e aumento do escoamento superficial".
A recuperação do solo pode levar cerca de três anos, com custos elevados para os produtores, que precisam investir no fornecimento de nutrientes para restaurar a área afetada.
A renovação da vegetação logo após a queimada pode deixar uma impressão positiva, no entanto, o efeito é apenas temporário.
Essa brotação de novas plantas ocorre porque as cinzas são compostas por grande quantidade de nutrientes (cálcio, magnésio e potássio, principalmente) estocados na fitomassa e liberados na superfície do solo com o fogo.
As cinzas são alcalinas, ou seja, neutralizam a acidez superficial e favorecem o crescimento de plantas. Mas parte das cinzas será levada para fora do local de queima, seja pela ação do vento ou do escoamento superficial pela chuva.
Contudo, em longo prazo, o estoque de carbono do solo é perdido, porque a baixa disponibilidade de nutrientes levará a maior mineralização da matéria orgânica armazenada.
"Então, vários processos são prejudicados pela perda dessa matéria orgânica, entre eles a capacidade de troca catiônica (CTC), estabilidade dos agregados, porosidade, infiltração de água, atividade e diversidade de micro, meso e macrofauna do solo", conta o especialista.
Para o pesquisador, um solo de qualidade, exercendo todas suas funções, auxilia no alcance de vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), tais como os relacionados à redução da fome (ODS 2) e à pobreza extrema (ODS 1 e 3), melhoria da proteção do meio ambiente (ODS 6, 11, 12, 14 e 15) e do combate às mudanças climáticas (ODS 13).
Fonte: Canal Rural