A prisão de Ismael “El Mayo” Zambada, líder mais antigo do cartel de Sinaloa, encerrou uma busca de 40 anos, provocou uma onda de violência e deixou várias perguntas sem respostas no México. Desde que agentes dos EUA detiveram Mayo, em uma operação cinematográfica, em julho, dez pessoas foram mortas em Sinaloa em conexão com o caso, incluindo o ex-prefeito de Culiacán Héctor Melesio Cuén. Mayo era o último dos fundadores do cartel que estava em liberdade. O fato em si muda a dinâmica do crime organizado no México, mas as circunstâncias agravam as consequências. Ele foi preso ao lado de Joaquín Guzmán López, filho de Chapo Guzmán, sócio de Mayo, que o acusa de traição. Ambos embarcaram em um avião para o Texas e receberam ordem de prisão assim que pisaram nos EUA — para espanto do governo mexicano.
A operação é um mistério. Uma hipótese é que Mayo tenha negociado sua rendição com os americanos para tratar de um câncer. Outra é que o filho de Chapo teria sequestrado o chefão de Sinaloa – tese difundida pelo próprio Zambada em carta. Ambas abrem espaço para uma violenta corrida pela sucessão e reorganização do grupo. O avanço de rivais sobre os domínios do cartel e denúncias de corrupção política formam a receita de um tsunami de violência. A queda de Mayo é uma vitória dos americanos. A recompensa por ele era de US$ 15 milhões e as acusações eram extensas: narcotráfico, crime organizado, conspiração em assassinatos e lavagem de dinheiro. Nada disso, no entanto, representa uma ameaça existencial ao crime organizado no México, segundo analistas.
A guerra civil entre os narcos apenas favorece o crescimento de outras organizações. Sinaloa é um gigante do narcotráfico, com operações em 47 países, segundo a DEA. Sua maior ameaça é o cartel Jalisco Nova Geração, fundado em 2011, após uma dissidência de Sinaloa, que seu expandiu rapidamente para 40 países. Os dois cartéis dominam as rotas de fentanil e cocaína para os EUA e disputam territórios em busca de novas áreas de influência “Existe o risco de uma violência explosiva entre Sinaloa e cartéis rivais, principalmente o Jalisco Nova Geração, que vai tentar tirar vantagem da instabilidade”, afirmou Robert Muggah, cientista político e cofundador do Instituto Igarapé. Um relatório do Congresso dos EUA, publicado em 2021, apontou os Estados de Sinaloa e Durango como centros do cartel de Mayo, que atua também em Sonora, Baja California e Chihuahua – todos na fronteira americana. Em 2023, três das cinco cidades mais violentas do México estavam no centro das disputas entre Sinaloa e grupos rivais.
*Com informações do Estadão Conteúdo
Publicado por Marcelo Bamonte
Fonte: Jovem Pan