Locais usados como abrigos por venezuelanos ficam vazios após protesto e morte de comerciante em Pacaraima

Locais usados como abrigos por venezuelanos ficam vazios após protesto e morte de comerciante em Pacaraima
Único movimento registrado em Pacaraima é em frente ao posto de triagem da Operação Acolhida, onde migrantes aguardam na rua, porém, atrás de grades de segurança instaladas na rua. Em agosto quadra tinha bastente movimento de migrantes; nesta sexta, local estava vazio em Pacaraima

Caíque Rodrigues/g1 RR

Pacaraima amanheceu com as ruas vazias e pouco movimento de migrantes nesta sexta-feira (26). A cidade brasileira fica na fronteira com a Venezuela e registrou nessa quinta (25) um dia de protesto de moradores após o comerciante da região, Djalma Alves Lobo, de 51 anos, ser morto durante um assalto.

A Polícia Militar afirma que os suspeitos do assalto seguido de morte são dois venezuelanos, que fugiram logo após o crime e ainda não foram localizados e presos. Djalma era dono de um bar, levou uma facada no peito, foi levado ao hospital, mas não resistiu. A Polícia Civil investiga.

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Após a morte, moradores se mobilizaram nessa quinta e foram às ruas em protesto cobrando por segurança na região. À tarde, eles chegaram a fechar por algumas horas a BR-174, única rodovia que dá acesso a Pacaraima. Não houve manifestação na manhã desta sexta e o comércio funciona normalmente na cidade.

Rua principal de Pacaraima onde antes tinham muitos migrantes hoje estava vazia

Caíque Rodrigues/g1 RR

Pela manhã, houve registro de correria de migrantes nas ruas da cidade em direção ao abrigo da Operação Acolhida e até disparo de fogos de artifício com eles.

Com essa tensão, os migrantes "sumiram" das ruas da cidade. Lugares como a rodoviária, a quadra de esportes e calçadas das lojas, onde venezuelanos que entram no país costumavam ficar, estão completamente vazios.

As cenas das ruas vazias, no entanto, contrastam com o posto de triagem da Operação Acolhida, único lugar com intenso movimento de migrantes nesta sexta. Do lado de fora, os que ainda não se regularizaram no país aguardam em um espaço na rua onde grades foram instaladas para controlar o trânsito de pessoas e veículos.

Foto feita em agosto mostra como calçada de loja era usada por migrante e, agora, mesmo lugar está vazio em Pacaraima

Caíque Rodrigues/g1 RR

Moradores de Pacaraima afirmam o protesto dessa quinta-feira pode ter deixado os migrantes com medo e, com isso, eles foram para as instalações da Operação Acolhida.

"A cidade ficou vazia depois do protesto, acho que ficaram com medo", disse a operadora de caixa de supermercado, Bruna Carvalho, de 21 anos, que costuma vivenciar movimento contrário ao dessa sexta.

"Eles foram para a Operação Acolhida, você vê que não tem ninguém na rua e também tem muita polícia", disse a comerciante Ivone Sousa, 52 anos.

Além disso, houve um reforço no policiamento da cidade. Policiais militares foram enviados de Boa Vista para a fronteira e não tem data para deixar a região.

Migrantes assustados

Alberto Aguillera, 29, açougueiro, com a família aguardando por atendimento

Caíque Rodrigues/g1 RR

O g1 conversou com alguns migrantes que aguardavam do lado de dentro da grade de segurança para que fossem atendidos no posto de triagem. Eles relataram ter sentido medo durante o protesto.

"Viemos para atrás da cerca para nos resguardarmos, porque aqui tem os militares e fora dela não temos nenhuma proteção", disse o migrante Alberto Aguillera, 29, açougueiro. Ele estava no local com a esposa e os dois filhos pequenos.

"Não temos culpa disso. Também não queríamos essa situação", acrescentou.

Luísa Roja, 36, dona de casa, relata medo após protesto em Pacaraima

Caíque Rodigues/g1 RR

"Tenho muito medo desse protestos. É muito injusto com nós que só queremos nos regularizarmos no Brasil para seguir adiante", disse Luísa Roja, 36, dona de casa, que também estava na frente do posto de triagem.

O jovem João Pinheiro, de 25 anos, morador de Pacaraima e um dos organizadores do protesto, afirma que a população não é contra os migrantes, mas a favor de maior segurança da fronteira. "A gente queria que tivesse algo como um 'posto de triagem criminal', para garantir nossa segurança", disse.

Em nota, a Acolhida informou que segue oferecendo "assistência emergencial aos refugiados e migrantes venezuelanos que entram no Brasil pela fronteira com Roraima e procuram nosso Posto de Interiorização e Triagem" e que as investigações sobre o crime contra o comerciante "são de competência dos órgãos de segurança pública."

Polícia Civil disse que ainda "não divulgou nome ou fotografias de suspeitos, tendo em vista que as informações quanto à autoria e a localização dos bens roubados ainda estão em andamento" e fez um alerta para a população não compartilhar informações não oficiais.

"A Polícia Civil alerta para que as pessoas tenham extrema cautela com comentários infundados, divulgação de fotografias de pessoas não relacionadas ao fato em apuração ou de fatos irreais que estariam sendo divulgados em grupos de mensagens de aplicativos da cidade. Evitando assim que injustiças aconteçam e inocentes sejam penalizados por crimes não praticados."

A PM em Pacaraima recebeu reforço de 25 policiais e quatro viaturas que foram enviadas da capital. "Ontem o protesto foi considerado pacifico, não houve enfrentamento e estamos monitorando", disse o major Igo Mayco, chefe do Comando da PM no interior.

Outros protestos

Esta não foi a primeira vez que Pacaraima registrou manifestações contra migrantes. Em agosto de 2018, venezuelanos foram expulsos do país e tiveram pertences queimados após um assalto contra um comerciante da cidade. À época, o Exército informou que cerca de 1,2 mil venezuelanos retornaram a Venezuela após o conflito.

Distante 215 km da capital Boa Vista, Pacaraima é a principal porta de entrada dos venezuelanos no Brasil em razão da longa crise política, econômica e social instalada no país vizinho. A Venezuela vive um colapso econômico e humanitário, com hiperinflação e milhares de venezuelanos têm fugido para outras partes da América Latina.