Famílias moram a um metro da Estrada de Ferro do AP e geram impasse para mineradora que quer reativar estrutura após 7 anos

Famílias moram a um metro da Estrada de Ferro do AP e geram impasse para mineradora que quer reativar estrutura após 7 anos
Projeto prevê a retomada da extração de minério no estado e transporte do produto por trens até 2024, mas depende da retirada dessas famílias. Famílias moram a cerca de um metro da Estrada de Ferro do Amapá

Jorge Júnior/Rede Amazônica

A Estrada de Ferro do Amapá, desativada desde 2014, pode retomar as atividades num prazo de três anos. Mas, para isso, há um grande desafio: o que fazer com as famílias que moram às margens da ferrovia? Os trilhos chegam a ser o quintal das casas ou estão à frente mesmo das construções, a cerca de um metro de distância.

Os trilhos servem de caminho para os trens que transportam minério extraído de Pedra Branca do Amapari, no interior do estado até Santana, na Região Metropolitana de Macapá. Mas as atividades da antiga mineradora do empresário bilionário Eike Batista paralisaram há sete anos, após uma crise com o desabamento no Porto de Santana.

Empresa da mineração pretende voltar a operar a Estrada de Ferro do Amapá em 3 anos

A DEV Mineração foi quem assumiu as operações do setor mineral no estado em 2019. A empresa pretende retomar a extração de minério, usar a Estrada de Ferro do Amapá e reativar área do Porto que desabou em Santana. A meta é que tudo isso aconteça em até 3 anos.

Normas técnicas apontam que residências devem ficar a pelo menos 15 metros de cada lado dos trilhos de trem. Para garantir mais segurança, a DEV pensa em utilizar no estado o limite mínimo de 30 metros. No entanto, há casas no local que estão a cerca de um metro de distância do trilho. As estruturas já estão há anos na região.

Criança caminhado entro os trilhos da Estrada de Ferro do Amapá

Erich Macias/Divulgação

A situação das famílias que moram perto da ferrovia será acompanhada pelo Ministério Público (MP) do Amapá, governo estadual e prefeitura de Santana, onde a Estrada de Ferro inicia.

O secretário de Meio Ambiente de Santana, Helder Lima, disse que uma das soluções estudadas é que as famílias que forem retiradas do local sejam encaminhadas para um conjunto habitacional que ainda será construído no município.

"Esse conjunto habitacional será para atender às demandas dirigidas, onde há pontos de ocupação irregular como essa do trilho. Então a gente vai trabalhar fazendo um estudo minucioso, vendo a necessidade de cada um e possivelmente essas famílias podem ser remanejadas para lá", disse.

Famílias moram há anos no entorno da Estrada de Ferro, em Santana, após a desativação da estrutura

Gabriel Penha/g1 arquivo

Uma das famílias que devem ser afetadas pela reativação das atividades na Estrada de Ferro é a da dona de casa Nilza Aguiar. Ela diz que espera as propostas apresentadas pelas autoridades para decidir o que fazer.

"Tem que ver a condição que eles vão apresentar se tirarem as casas, porque a gente gastou aqui. Inclusive não era para ter deixado ninguém fazer casa aqui já que é área de risco", opinou.

A Estrada de Ferro do Amapá liga Santana até Serra do Navio. Um levantamento já apontou que, nos 210 quilômetros de trilhos, são pelo menos 3 mil pontos críticos, onde há casas quase em cima da estrutura, além de entulhos.

Mineradora quer aplicar investimentos e retomar atividades na Estrada de Ferro do Amapá

Jorge Júnior/Rede Amazônica

Procuradora da DEV Mineração, Raquel Dalseco explicou que o projeto se encontra na parte orçamentária, última etapa antes de a empresa voltar a transportar os trens.

"A parte conceitual a gente já fez toda. Durante quatro meses foi feito um estudo de tudo que precisa ser feito para a gente voltar com a ferrovia. E agora na terceira etapa nós estamos fazendo a parte de custo e após isso nós vamos para a parte de implantação", detalhou.

Área do porto em Santana, onde houve o desabamento em 2013

Agência Amapá de Notícias

A empresa prevê fazer testes com a circulação do trem em alguns trechos da ferrovia já em 2022, se todas as demandas forem solucionadas no cronograma montado pela mineradora. A previsão é até 2024 iniciar o transporte de minério estocado.

"Estima-se 3 anos para a gente estar trabalhando na nossa produção total. Na Estrada de Ferro, a 1ª atividade que vamos estar fazendo é reformar uma locomotiva com dois vagões plataforma para começar a fazer o transporte dos agricultores e reativar essas atividades para a comunidade", avaliou.

Rodeiros de vagões e locomotivas da Estrada de Ferro do Amapá abandonados

Setrap/Arquivo

A DEV Mineração assumiu as operações do setor mineral no Amapá após fazer um depósito judicial de R$ 10 milhões, valor a ser usado para o pagamento de dívidas, entre elas as trabalhistas. É uma das atividades que movimentam a economia do estado com a oferta de milhares de empregos.

Ainda não existe um valor total do investimento a ser feito para a reforma do trem e da ferrovia. A Estrada de Ferro do Amapá passou nos últimos anos por vários furtos de dormentes e trilhos, deixando um prejuízo de R$ 10 milhões.

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