Estudo aponta alta contaminação por mercúrio em mulheres que vivem em garimpos no Amapá

Estudo aponta alta contaminação por mercúrio em mulheres que vivem em garimpos no Amapá
Pesquisa analisou 34 moradoras da comunidade Vila Nova no município de Porto Grande. Danos da poluição podem afetar a saúde e gravidez. Mercúrio usado em garimpos no Amapá

Ipen/Divulgação

Uma pesquisa analisou fios de cabelo de 34 mulheres em idade fértil da comunidade Vila Nova, no município de Porto Grande, no interior do Amapá, e revelou que o grupo tem alta contaminação por mercúrio. A região onde as participantes residem, segundo o estudo, fica próxima de garimpos, a maioria ilegais e que usam produtos nocivos à natureza durante a extração.

A pesquisa indicou que as mulheres apresentaram nível médio de contaminação de 2,98 ppm (partes por milhão), dado acima da taxa de 1 ppm estabelecida pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos como limite para o início de efeitos negativos no desenvolvimento dos fetos em gestação.

O estudo "Exposição de mulheres ao mercúrio em quatro países latino-americanos", publicado este ano, foi feito pela Rede Internacional de Eliminação de Poluentes e o Biodiversity Research Institute (BRI) com apoio do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé).

Pesquisa revela alto índice de contaminação por mercúrio em mulheres que vivem em garimpos

Coordenador do Programa Gestão da Informação do Instituto Iepé, Decio Yokota, conta que 16 participantes do estudo disseram trabalhar no garimpo ou serem casadas com garimpeiros. O restante vive da subsistência, mas consome semanalmente peixes da região.

"As mulheres estão com um grau de contaminação bastante alto, seja por estarem trabalhando diretamente no garimpo ou por estarem consumindo pescado que infelizmente também está contaminado pelo garimpo. O mercúrio é considerado um dos 10 piores contaminantes do mundo e os efeitos são principalmente no sistema nervoso. Podem começar por tremedeiras, dificuldades de equilíbrio e motoras, mas podem ir para casos bem mais graves e fatais", explicou.

Comunidade Vila Nova, no Amapá

Iepé/Divulgação

Um levantamento iniciado em 2017 nas bacias hidrográficas dos rios Araguari, Amapari, Cassiporé, Oiapoque e Amapá Grande, já havia indicado uma concentração de mercúrio maior do que a recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nos peixes dessas regiões.

As mulheres participaram do estudo de foram voluntária. O público foi escolhido, segundo Yokota, por se tratar do mais afetado quando o assunto é contaminação por mercúrio.

Peixes pescados em região próxima de garimpos no Amapá

Iepé/Divulgação

De acordo com a pesquisa, quando em contato com o mercúrio, grávidas e fetos podem apresentar comprometimento neurológico, danos aos rins e ao sistema cardiovascular.

"Elas são o público mais afetado pela questão do mercúrio, principalmente as em idades reprodutivas por conta do potencial feto. As crianças quando recebem uma contaminação muito grande têm problemas de desenvolvimento grave, inclusive, fatal", ressaltou o coordenador.

Decio Yokota, coordenador do Programa Gestão da Informação do Instituto Iepé

Ronaldo Brito/Rede Amazônica

A intenção era que mais mulheres da comunidade Vila Nova fossem analisadas na pesquisa, no entanto, por conta da insatisfação de homens do garimpo, o trabalho não foi concluído como esperado.

"Infelizmente no meio dessas coletas houve um entendimento talvez equivocado dos homens de que isso pudesse trazer algum fator negativo para o garimpo, e a gente não conseguiu concluir todas as analises no Vila Nova, mas o interesse foi grande de todas as mulheres", disse Yokota.

Mercúrio utilizado na atividade garimpeira

Ipen/Divulgação

Agora, o objetivo das instituições que realizaram o estudo é fazer com que a pesquisa sirva de alerta para que governo federal cumpra ações de combate aos garimpos ilegais e ao uso de mercúrio nessa atividade.

"O Brasil é signatário da Convenção de Minamata, que foi ratificado pelo governo federal em 2018, ou seja, faz parte das leis brasileiras e o que a Convenção coloca é a eliminação completa do uso do mercúrio. O Brasil já tem esse compromisso. A questão é fazer ele acontecer", destacou.

Amostra de cabelo coletada durante pesquisa

Ipen/Divulgação

As amostras de fios de cabelo foram coletadas na comunidade Vila Nova em 2019. Devido a pandemia, os resultados foram publicados apenas em 2021.

A pesquisa também descobriu mulheres com alta contaminação por mercúrio em outros três países da América do Sul: Bolívia, Colômbia e Venezuela.

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