MPF-RR recomenda exumação de corpos de indígenas vítimas da Covid para rituais fúnebres em comunidades

MPF-RR recomenda exumação de corpos de indígenas vítimas da Covid para rituais fúnebres em comunidades
Indígenas foram enterrados em cemitérios de Boa Vista. Recomendação foi enviada aos Distritos Sanitários Indígena Leste e Yanomami. Comunidade na Terra Indígena Yanomami

Reprodução/ Hutukara Associação Yanomami

O Ministério Público Federal de Roraima (MPF-RR) recomendou a exumação dos corpos de indígenas vítimas da Covid-19, enterrados em cemitérios de Boa Vista, além do translado às comunidades de origem para a realização dos rituais fúnebres conforme cada cultura.

O ofício, assinado pelo procurador da república, Alisson Marugal, foi encaminhado as coordenações do Distrito Sanitário Especial Indígena Leste (Dsei-Leste) e ao Yanomami (Dsei-Y). A recomendação é do dia 17 de dezembro passado.

O g1 procurou o Ministério da Saúde para se manifestar sobre a recomendação aos órgãos ligados à pasta, mas não teve retorno até a última atualização da reportagem.

No texto, o procurador considera que "ignorar as práticas culturais em momento tão grave para uma família e uma comunidade é agravar a situação de sofrimento e a violência sofrida em razão de doenças levadas por não indígenas". Não foi informado o número de corpos que devem ser exumados.

Em entre maio e junho de 2020, dois bebês Yanomami foram enterrados em Boa Vista sem autorização da família. Esta etnia possui um ritual próprio de cremação na floresta. Depois de cuidar das cinzas durante um ano, fazem o ritual tradicional.

Já no mês de julho do mesmo ano, indígenas Wai Wai impediram a saída de duas ambulâncias na comunidade Xaary, ao Sul de Roraima, em protesto para velar e enterrar dois moradores da região que morreram de coronavírus e foram enterrados em um cemitério particular da capital.

Os dois veículos só foram liberados um mês depois, após o MPF fazer um acordo, em que foi citada a possibilidade de exumação dos corpos. Sérgio Xexewa Wai Wai, de 80 anos, e Fernando Makari, 58, que morreram no dia 4 de julho de 2020.

A recomendação do MPF se baseia em dois pareceres técnicos do Instituto Médico Legal da Polícia Civil de Roraima e da Comissão de Assessoramento Técnico do Departamento de Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal de Saúde de Boa Vista, favoráveis a exumação e translado dos corpos.

Ao final, o documento orienta a adoção de três medidas pelos Dsei's, como entrar em contato com as comunidades para confirmar o interesse das famílias, providenciar o custeio do procedimento com adoção de todas as medidas de biossegurança aplicáveis, e orientação das comunidades sobre esses cuidados para a não transmissão durante os rituais.

Até a tarde desta terça-feira (11), o boletim epidemiológico da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) apontava que 4.480 indígenas foram contaminados pela Covid na região atendida pelo Dsei-Leste e ocorreram 110 mortes. Já na Terra Yanomami são 2.131 infectados e 22 mortos.

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