Companhias aéreas dos EUA alertam para possível 'caos' se 5G não for limitado perto de aeroportos; entenda

Companhias aéreas dos EUA alertam para possível 'caos' se 5G não for limitado perto de aeroportos; entenda
Estreia de nova faixa da rede móvel está prevista para quarta-feira (19), mas aéreas pedem terceiro adiamento. Pessoa em frente a um letreiro do 5G

Josep Lago/AFP

Presidentes de 10 companhias aéreas dos Estados Unidos emitiram um alerta na última segunda-feira (17) às autoridades para alertar sobre o possível "caos" que representaria a ativação de redes 5G nas proximidades de aeroportos, em uma carta obtida pela agência de notícias AFP.

A estreia de uma nova faixa da nova tecnologia está prevista para a próxima quarta-feira (19), depois de ser adiada duas vezes por causa das preocupações de interferências que a rede pode causar nas aeronaves.

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"Escrevemos para pedir urgentemente que a 5G seja implementada a partir de 19 de janeiro em qualquer local, exceto a 2 milhas (cerca de 3,2 km) das pistas de aeroportos, como foi definido pela FAA (autoridade de aviação federal)", destaca a carta, também assinada pelas gigantes de logística FedEx e UPS.

"Em um dia como o último domingo, mais de 1.100 voos e 100.000 passageiros estariam sujeitos a cancelamentos, desvios e atrasos", temem os presidentes dessas empresas, incluindo American Airlines, Delta e Southwest.

Entenda ponto a ponto o problema:

O que está acontecendo?

O que dizem as operadoras

O que acontece agora

Por que isso está acontecendo somente nos EUA?

1. O que está acontecendo?

As aéreas afirmam que o uso da Banda C (faixa que utiliza o espectro entre 3.7 GHz a 6.425 GHz) no 5G poderia interferir em componentes eletrônicos da aeronave, especialmente os altímetros (medidores de altitude).

Esse equipamento opera por rádio nas aeronaves e usa frequências próximas ao 5G. Eles são responsáveis por calcular a distância exata do avião em relação ao solo, usados especialmente em operações de pouso por instrumentos, quando a visibilidade na pista está reduzida, para evitar acidentes e colisões.

As companhias aéreas defendem uma pausa "até que a FAA possa determinar como essa implantação pode ser realizada com segurança e sem interrupções catastróficas".

Dreamliner 787-10 no Aeroporto Internacional de Newark, em Nova Jersey

AP Photo/Seth Wenig

Preocupada com possíveis problemas de interferência com dispositivos de medição de altitude de aeronaves, a FAA emitiu novas diretrizes que limitam o uso desses mecanismos de voo em algumas situações e na última sexta (14) pediu à AT&T e à Verizon que adiassem a ativação da banda C perto de um número indeterminado de "aeroportos prioritários" enquanto um estudo mais aprofundado é realizado.

Essa pesquisa irá determinar exatamente quantos avisões podem ser impactados. Por enquanto, a autoridade permitirá que aviões com altímetros precisos e confiáveis operem em regiões com 5G. Mas os aviões com altímetros mais antigos não poderão fazer aterrissagens em condições de baixa visibilidade.

2. O que dizem as operadoras?

O CTIA , um grupo da indústria de redes sem fio dos EUA, disse que o 5G é seguro e acusou a indústria da aviação de espalhar o medo e distorcer os fatos.

A organização disse que a banda C já foi implantada em cerca de 40 países, sem relatos de interferência prejudicial com equipamentos de aviação.

A agência de notícias Associated Press disse ainda que o CEO da AT&T, John Stankey, e o CEO da Verizon, Hans Vestberg, se ofereceram para reduzir alcance de suas redes 5G perto dos aeroportos, como está sendo realizado na França.

3. O que acontece agora?

A AT&T e a Verizon poderão lançar o 5G na banda C este mês sob as licenças já concedidas pela FCC. As companhias aéreas têm até sexta-feira (20) para dar às companhias uma lista de até 50 aeroportos onde acreditam que o alcance do 5G deve ser reduzido até 5 de julho, segundo a Associated Press.

Até julho, as empresas de telecomunicações conversarão com a FAA e as companhias aéreas sobre possíveis medidas a longo prazo em relação ao serviço 5G próximo aos aeroportos.

Entretanto, nos termos do acordo com a FAA, a AT&T e a Verizon terão competência exclusiva para decidir se serão feitas quaisquer mudanças no serviço.

4. Por que isso está acontecendo somente nos EUA?

Nos Estados Unidos, a Banda C do 5G vai até 3,98 GHz, próximo da frequência dos altímetros, que operam entre 4,2 GHz e 4,4 GHz. Quanto maior a frequência, mais rápido o serviço tende a ficar – por isso, as operadoras querem tirar proveito de toda a banda.

A preocupação é que a chamada "banda de guarda", que funciona como uma faixa de segurança entre as frequências, é menor do que em outros países.

No Brasil, por exemplo, as operadoras podem operar até a faixa de 3,7 GHz – uma banda de guarda bem maior, que reduz os riscos de interferência.

"Esse maior distanciamento em frequência, chamado de banda de guarda, acarreta melhores condições para a convivência, e menor risco de interferências no território brasileiro", afirmou Moisés Moreira, conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e presidente do Grupo de Acompanhamento da Implantação das Soluções para os Problemas de Interferência (Gaispi).

Na União Europeia, a banca C vai de 3,4 GHz a 3,8 GHz, enquanto na Coreia do Sul, o alcance é de 3,4 a 3,7 GHz, segundo a Reuters.