Argentina investiga se opioide provocou mortes por cocaína 'envenenada'

Argentina investiga se opioide provocou mortes por cocaína 'envenenada'
Droga adulterada deixou 23 mortos e 84 hospitalizados na província de Buenos Aires; três pessoas tiveram que ser atendidas depois de receber alta porque voltaram a consumir a substância. Ministro da Segurança de Buenos Aires disse crer em 'erro de cálculo' na hora de preparar a cocaína para a venda. Parentes de vítimas da cocaína envenenada falam sobre o ocorrido

A cocaína “envenenada” que causou 23 mortes e levou 84 pessoas a serem hospitalizadas em 12 municípios da província Buenos Aires, teria sido adulterada com a mistura de um opioide, segundo autoridades de saúde argentinas.

Uma das hipóteses mais prováveis é que tenha sido usado fentanil, um medicamento até 100 vezes mais potente que a morfina e com efeito contrário ao estimulante da cocaína (leia mais abaixo), o que provocou as reações que levaram às mortes e overdoses.

Parente de uma pessoa hospitalizada após consumir cocaína adulterada fala à imprensa na porta de hospital em Buenos Aires, na Argentina, na noite de quarta-feira (2)

Reuters/Matias Baglietto

Nesta quinta-feira, dezenas de pacientes ainda respiravam com o auxílio de aparelhos.

O que se sabe até agora sobre morte de 20 pessoas por 'cocaína envenenada' na Argentina

Cocaína envenenada deixa mortos e hospitalizados na Argentina

Os pacientes que sobreviveram foram salvos com o uso de naloxona, “um antagonista opioide puro”, segundo Carlos Damin, toxicologista do Hospital Fernández, consultado pela emissora argentina TN. O especialista explica ainda que a substância não tem efeito em alguém que não tenha opioides em seu corpo e não é um tratamento para o transtorno do uso de opioides.

Em comunicado na noite de quarta, a Secretaria de Saúde da província de Buenos Aires já tinha informado que havia sido declarado "alerta epidemiológico" e que informações preliminares indicavam que as vítimas sofriam "quadros de intoxicação por opiáceos e se desconhece a existência de outro produto vinculado".

Segunda internação

As autoridades apreenderam 15 mil porções de cocaína semelhantes às que foram adquiridas pelas vítimas, embaladas em pacotes cor de rosa, e emitiram um alerta pedindo que todos que compraram cocaína nas últimas 24 horas descartem a droga, mas, ainda assim, mais casos foram registrados.

Além disso, segundo o ministro da Saúde de Buenos Aires, Nicolás Kreplak, três das pessoas intoxicadas voltaram a ser socorridas em hospitais porque consumiram novamente a droga, depois de terem recebido alta após um primeiro atendimento.

Kreplak disse ainda que o sistema de saúde recebeu mais de 200 consultas a cada turno relacionadas ao consumo da cocaína adulterada.

Homem é admitido no Bocalandro Hospital após consumir cocaína adulterada em Loma Hermosa, na província de Buenos Aires, na Argentina, na quinta-feira (3)

Tomas Cuesta/AFP

Erro de cálculo

A cocaína adulterada foi encontrada em diversos pontos da província e vítimas de diferentes regiões foram atendidas. Mas sua origem foi Puerto 8, onde foram detectados os primeiros casos e onde fica uma importante zona de tráfico da província.

O ministro da Segurança de Buenos Aires, Sergio Berni, afirmou que a polícia investiga a cadeia de distribuição da droga e que um traficante de San Martin que seria o “cozinheiro” – responsável pela preparação das doses – de uma quadrilha foi preso na madrugada desta quinta-feira (3).

Berni acredita que a mistura fatal possa ter sido um erro de cálculo na hora de misturar a cocaína com outras substâncias, prática comum para que a droga tenha rendimento maior. “Ninguém conspira contra seu próprio negócio”, disse, durante uma entrevista coletiva.

O ministro afirmou ainda que não crê na hipótese de uma briga de diferentes quadrilhas e uma suposta ação de sabotagem de uma contra a outra, como chegou a ser cogitado na imprensa argentina.

Fentanil

Uma substância difícil de conseguir na Argentina, onde não é vendido em farmácias sequer com receita médica e só pode ser adquirido por clínicas e hospitais, o fentanil é um dos principais responsáveis pela chamada 'crise de opioides' nos Estados Unidos, causando a maioria das mortes por overdose naquele país.

Nos EUA, o fentamil é vendido com receita médica e geralmente prescrito a vítimas de acidentes ou pacientes que se recuperam de cirurgias e sofrem de dores fortes e têm tolerância a outros opioides. Foi esse o medicamento que causou a morte do cantor Prince.

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