Entenda por que massacre próximo a Kiev pode acelerar julgamento a Rússia por crimes de guerra

Entenda por que massacre próximo a Kiev pode acelerar julgamento a Rússia por crimes de guerra
Dezenas de corpos de civis foram encontrados em Bucha, nos arredores da capital ucraniana, caídos nas ruas e com mãos amarradas. Líderes da UE e EUA acusam tropas da Rússia, que nega autoria Corpos de civis são abandonados em ruas da cidade de Bucha, na Ucrânia

A acusação de que a Rússia cometeu um massacre na cidade de Bucha, a 60 km de Kiev, na Ucrânia, ganharam força neste domingo (3). O governo dos Estados Unidos e líderes do Reino Unido, Alemanha e França, além da Otan, acusaram Moscou de ter cometido crime de guerra. A Rússia nega e acusa a Ucrânia de armar uma cena falsa de crime.

Os corpos foram encontrados no sábado (2), quando tropas russas deixaram a cidade, junto a diversas outras nos arredores de Kiev, depois de um forte embate entre soldados dos dois lados na região. Na semana passada, Moscou havia prometido recuar na área.

Uma rua da cidade de Bucha, perto de Kiev, ainda guarda os destroços de um comboio russo destruído por uma emboscada ucraniana.

BBC/ Lee Durant

A diferença da gravidade deste episódio para outras denúncias de assassinato de civis por tropas russas ao longo da guerra é que, neste caso, imagens foram registradas por veículos como a BBC e as agências de notícias Reuters, Associated Press e France Presse logo depois de as tropas ucranianas retomarem o controle da cidade. Fotos e vídeos mostram dezenas de corpos de civis pelo chão nas ruas. Alguns deles, segundo relato das agências, tinham as mãos amarradas.

Em áreas do país cujo ainda controladas por tropas russas, como é o caso de Mariupol, o acesso da imprensa é quase impossível. Lá, uma equipe da Associated Press chegou a ser retirada à força.

O prefeito da cidade disse que há 280 corpos em uma só vala comum na cidade, o que autoridades e equipes de busca tentam verificar. Até agora, as forças de resgate encontraram 57 pessoas mortas em uma vala comum.

A localização de Bucha no mapa da Ucrânia. Imagem mostra cidade antes dos ataques

Arte/ g1

O que define se o caso é crime de guerra

O Tribunal Internacional de Haia, corte responsável por julgar violações e crimes cometidos em conflitos no mundo inteiro, define um crime de guerra como "uma brecha grave" das Convenções de Genebra feitas após a Segunda Guerra Mundial, que estabeleceu as normas e limites no mundo inteiro.

As acusações contra Vladimir Putin devem ser denunciadas ao Tribunal e, mesmo com evidências como imagens, podem levar anos para serem julgadas, além de enfrentar diversos desafios jurídicos, segundo avaliam juristas consultados pela agência de notícias Reuters.

O primeiro grande desafio é confirmar a autoria de tropas russas nos assassinatos de civis, o que vai além de acusações dos líderes de Estado. No caso de Bucha, a Rússia voltou a acusar o governo da Ucrânia de armar uma notícia falsa.

Em nota, o Ministério de Defesa da Rússia afirma que as imagens são "outra produção do regime de Kiev para os meios de comunicação ocidentais". Moscou negou que seus soldados tenham matado civis em Bucha.

As imagens, no entanto, podem acelerar o processo.

Líderes condenam mortes de civis em Bucha

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, chamou neste domingo (3) o episódio de "genocídio" e pediu à comunidade internacional mais sanções. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, já anunciou que aumentará as represálias a Moscou depois do episódio.

"Os desprezíveis ataques da Rússia contra civis inocentes em Irpin e Bucha são mais uma prova de que (o presidente russo Vladimir) Putin e seu exército estão cometendo crimes de guerra na Ucrânia", afirmou o britânico em um comunicado.

O secretário de Segurança dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse que as imagens são um "soco no estômago" e apontou a Rússia como responsável pelos assassinatos.

O primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, também condenou explicitamente Moscou, que, segundo ele "sentirá os efeitos" das retaliações. Em Berlim, o presidente do país, Frank-Walter Steinmeier, declarou que "os crimes de guerra cometidos pela Rússia estão visíveis aos olhos do mundo. As imagens de Bucha me abalam, elas nos abalam profundamente."

No início de março, o Ministério Público da Alemanha havia aberto um inquérito sobre suspeitas de crimes de guerra por militares russos na invasão da Ucrânia. Mas esta é a primeira vez que representantes do primeiro escalão político alemão classificam assim as ações do exército invasor.