Qual foi o estopim para Doria, traído no PSDB, desistir da Presidência e cair sem atirar

Qual foi o estopim para Doria, traído no PSDB, desistir da Presidência e cair sem atirar
Depois de vencer as prévias tucanas e bater o pé por meses, ex-governador de SP desistiu da pré-campanha e optou, nas últimas horas, pelo afastamento sem queimar aqueles que o apunhalaram. Natuza: Sem Doria, ala do PSDB vai insistir em Eduardo Leite

Da surpreendente eleição em primeiro turno à Prefeitura de São Paulo, em 2016, para uma queimação total em (e pelo) seu próprio partido. João Doria foi do céu ao inferno em apenas seis anos. E terminou ao menos esta temporada política como um dos casos mais impressionantes de ascensão e queda.

Doria foi abandonado por quem, no passado recente, ajudou. Nos últimos dias, aliados reclamavam em particular de Rodrigo Garcia. Mas João Doria não passava recibo: em toda conversa, dizia não acreditar que Garcia fosse capaz de traí-lo. Essa opinião só sofreu abalo maior na última quarta-feira.

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Naquele dia, Doria foi convidado a um jantar para tratar de eleições com empresários. Este grupo é de onde ele vem, uma espécie de habitat natural – articulou a criação do Lide, por exemplo. Pouco antes do jantar, acabou desconvidado.

O ex-governador soube, então, a existência de uma operação de bastidor para que ele não fosse ao encontro – movimento atribuído a Rodrigo Garcia, que nega qualquer atuação nesse sentido. Aquilo, entretanto, foi o estopim para desistir da pré-candidatura à Presidência.

Aliados de Garcia afirmam que o pessoal de Doria tentou culpá-lo pelos erros que o próprio Doria cometeu. Segundo essa visão, João Doria caiu sozinho, não por obra de ninguém. Toda a crise tucana mostra, entretanto, que todos são responsáveis pelo rumo que as coisas tomaram.

João Doria, ex-governador de SP, retirou sua pré-candidatura à Presidência pelo PSDB

Suamy Beydoun/Agif/Estadão Conteúdo

Uma ala, por exemplo, argumenta João Doria prova agora do mesmo veneno que causou ao então presidenciável Geraldo Alckmin em 2018. Na ocasião, ele, então candidato ao governo de SP, aproximou-se de Jair Bolsonaro ainda no primeiro turno. No segundo turno, explicitou o apoio com o "Bolsodoria".

Com a ideia de que Garcia o abandonara e a desistência sacramentada em sua cabeça, Doria teve de escolher como seria seu desembarque: atirando contra quem o traiu no PSDB ou, como foi feito, compondo com os quadros responsáveis pela apunhalada.

Ele e Garcia se encontraram antes do anúncio feito nesta segunda. Ali, construiu-se um entendimento para Doria resolver sair em silêncio, sem atacar ninguém. Os termos desse acordo ainda não são conhecidos. Sabe-se apenas que foi o suficiente para Doria, mesmo assumindo-se ferido, sair em silêncio.