Estoques mundiais de armas nucleares devem aumentar nos próximos anos, diz relatório

Estoques mundiais de armas nucleares devem aumentar nos próximos anos, diz relatório
Instituto sueco especializado em armamentos alerta para novos incrementos atômicos após décadas de redução de arsenais no mundo. Números são relativos a período anterior à invasão da Ucrânia pela Rússia. Ministério de Defesa da Rússia divulga foto de teste de míssil balístico intercontinental feito em 2020

Ministério de Defesa da Rússia via AP

Os estoques mundiais de armas nucleares devem aumentar nos próximos anos, revertendo um declínio observado desde o fim da Guerra Fria, alertou nesta segunda-feira (13/06) o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri).

De acordo com mais recente relatório anual da entidade sueca, todos os nove países com armas nucleares estão aumentando ou atualizando seus arsenais.

"Há indicações claras de que as reduções que caracterizaram os arsenais nucleares globais desde o fim da Guerra Fria chegaram a um fim'', disse Hans M. Kristensen, pesquisador do Programa de Armas de Destruição em Massa do Sipri e diretor do Projeto de Informação Nuclear da Federação de Cientistas Americanos.

Líder norte-coreano Kim Jong-Un com míssil balístico intercontinental (ICBM), segundo agência estatal

KCNA via Reuters

Atualização de arsenais

Os EUA e a Rússia, que detêm 90% das armas atômicas do mundo, reduziram seus estoques em 2021 devido ao desmantelamento de ogivas defasadas. Seus estoques militares utilizáveis permaneceram relativamente estáveis e dentro dos limites estabelecidos por um tratado de redução de armas nucleares, de acordo com o Sipri.

De acordo com o Sipri, programas extensos e caros estão em andamento em ambos os países para substituir e modernizar ogivas nucleares, sistemas de lançamento e instalações de produção.

O instituto disse que os outros países nucleares – Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte – estão desenvolvendo ou implantando novos sistemas de armas, ou anunciaram sua intenção de fazê-lo. Israel nunca reconheceu publicamente possuir tais armas nucleares.

"Todos os Estados com armas nucleares estão aumentando ou atualizando seus arsenais, e a maioria está afiando sua retórica nuclear e o papel que armas nucleares têm em suas estratégias militares'', disse Wilfred Wan, diretor do Programa de Armas de Destruição em Massa do Sipri. "Esta é uma tendência muito preocupante", ressaltou.

Foto de maio de 2015 mostra ogiva nuclear desativada no Arizona, nos EUA

Brendan Smialowski/AFP

'Risco de confronto nuclear aumentou'

Segundo os pesquisadores da paz, o risco de um confronto nuclear aumentou como resultado da guerra de agressão russa contra a Ucrânia. Os novos dados do Sipri foram coletados até janeiro de 2022. Um mês mais tarde, a Rússia invadiu a Ucrânia.

O especialista do Sipri Hans M. Kristensen frisa ainda ser cedo para conclusões sobre como a guerra na Ucrânia afetará a situação nuclear no mundo, mas vê um efeito indireto já agora. "Os russos percebem que suas forças convencionais não são tão boas quanto pensavam", afirma, acrescentado que a Rússia provavelmente se concentrará mais em armas nucleares táticas no futuro.

O presidente russo, Vladimir Putin, colocou as armas nucleares do país em alerta redobrado. Em meio à guerra contra a Ucrânia, ele realizou um teste, como demonstração de poder frente à Otan, com um novo míssil balístico intercontinental do tipo Sarmat. Segundo especialistas, o Sarmat é capaz de transportar dez ou mais ogivas nucleares.