Brasileiros buscam alternativas para enfrentar insegurança alimentar e colocar comida na mesa

Levantamento feito entre novembro do ano passado e abril deste ano revelou que a insegurança alimentar - que é quando se começa o dia sem a certeza de ter o que comer - atinge mais de 60% dos domicílios rurais; a fome, 18%. Brasileiros buscam nas plantações reforço para colocar comida na mesa

O risco de insegurança alimentar tem levado muita gente a buscar alternativas para colocar comida na mesa.

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Mesmo plantando, seu Lourival tem cada vez menos o que comer. Na zona rural de Peritoró, no Maranhão, ele faz alguns bicos, transformando mandioca em farinha. E, para se alimentar, planta em um pedaço de terra emprestado que precisa devolver o quanto antes.

“Tinha dias que meio-dia, assim, é arroz puro direto, ou come ou então que fique sem comer”, conta o lavrador Ferreira da Silva.

Alívio quando aparece alguma doação para matar a fome dos nove filhos.

“Tem um rapaz, acho que um tempo desse, passou e me deixou um fardo de flocão de milho. Foi o que melhorou para me dar para os meus meninos o sustento”, diz o lavrador Lourival Ferreira da Silva.

Levantamento feito entre novembro de 2021 e abril de 2022 pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional revelou que a insegurança alimentar - que é quando se começa o dia sem a certeza de ter o que comer - atinge mais de 60% dos domicílios rurais; a fome, 18%.

O economista que estuda o campo explica que os fatores que têm agravado a fome no meio urbano também valem para o rural.

""Ah, ele produz mandioca". Ele não vai comer mandioca o tempo todo. Ele vai querer arroz, ele vai querer feijão, vai querer uma proteína, vai querer uma carne. Gente, estes produtos todos estão caros para todo o mundo nos mercados. O principal fator que vai explicar o aumento da fome não é falta de comida disponível no mercado, mas falta de renda, falta de dinheiro nos domicílios, inclusive dos produtores agropecuários para conseguir chegar a esse alimento”, diz o economista Felippe Serigati, da FGV Agro.

Se é da natureza da terra prover o que se come, quem mora na cidade grande também enxergou no "plantar e colher" um caminho para reverter a falta de comida. A ideia juntou dezenas de famílias necessitadas que dividiram canteiros que dão de alface à batata, passando pelo feijão. Foi uma maneira de escapar da escalada de preços dos alimentos.

“Alface, escarola, batata-doce, mandioca, feijão andu. Os temperos também”, explica a coordenadora da horta Dilva Duarte.

Dona Edisca sentia a falta das verduras nas idas ao mercado.

“O dinheiro acabava e voltava sem a verdura. Voltava só na vontade de comer. E depois, do meu canteirinho para cá, nunca mais senti falta de nada”, afirma a pensionista Edisca Próspero de Souza, de 84 anos.

A horta fica na periferia de São Paulo e nasceu com a crise. Se uma família precisa de um alimento e a terra ainda não deu, a ajuda vem do canteiro do lado. É o que tem salvado a dona Maria Elena.

“Uma batata, uma folhinha aqui, um alface, um coentro, nossos produtos para irmos sobrevivendo”, conta a aposentada Maria Elena Silva Ribeiro, de 64 anos.

Dona Antonieta não esquece de repartir com quem precisa mais do que ela.

“Eu já vi pessoa pegar um ovo e partir para dois filhos. Então, se cada pessoa tivesse condições de ter sua hortinha, seu canteiro, sua verdura, seus legumes, ia melhorar muito na mesa do pobre, porque o pobre tem sofrido”, diz a aposentada Antonieta Sousa Lima, de 67 anos.