Biden enfrenta dilema na troca da atleta Brittney Griner por um criminoso de armas russo

Biden enfrenta dilema na troca da atleta Brittney Griner por um criminoso de armas russo
Como o governo americano negocia a libertação da estrela do basquete feminino, usada como troféu pela Rússia para obter ganhos no momento mais tenso das relações entre os dois países desde o fim da Guerra Fria. Rússia condena Brittney Griner, jogadora de basquete americana, a 9 anos de prisão

Bicampeã olímpica de basquete, a americana Brittney Griner desembarcou no destino errado e na hora errada e paga um preço alto por isso. Uma semana antes de a Rússia invadir a Ucrânia, em 24 de fevereiro, ela foi detida no Aeroporto Internacional Sheremetievo, perto de Moscou, com um vape que continha óleo à base de cannabis. Rapidamente se transformou num valioso troféu para Vladimir Putin, chamado de bandido pelo presidente americano,

Ninguém, a essa altura do desacerto diplomático entre Rússia e Estados Unidos, tinha expectativa de uma sentença que a inocentasse. Aos 31 anos, Grinner foi condenada a nove anos e meio de prisão a serem cumpridos em uma colônia penal, tachada como traficante de drogas, que ela justificou ter autorização médica para usar para o tratamento de dores crônicas.

A dura sentença põe o presidente Biden num dilema complexo, praticamente de joelhos para obter a libertação de Grinner e trazê-la de volta para casa. O governo americano negocia com a Rússia uma troca desproporcional entre prisioneiros: Griner e o ex-fuzileiro naval Paul Whelan, condenado a 16 anos por espionagem, pelo traficante de armas russo Viktor Bout, que já cumpriu metade de sua sentença de 25 anos nos EUA.

Brittney Griner, jogadora de basquete americana, chegando a corte da Rússia

REUTERS/Evgenia Novozhenina

Conhecido como “Mercador da Morte”, Bout é o prisioneiro russo mais notório no país, por quem o Kremlin frequentemente intercede, tentando o retorno para Moscou. Ainda assim, a oferta dos EUA foi aquecida em banho maria pelo Kremlin, provavelmente à espera da comoção entre os americanos pela condenação de Griner.

Além da posse de cannabis, ilegal na Rússia, situação da atleta se complicou por ser gay num país hostil à comunidade LGBTQ+. A imagem da musculosa estrela da WNBA, imponente em seus 1,90m, causa desconforto e indignação cada vez que aparece em público, encerrada numa minúscula jaula de ferro e fadada à condição de moeda de troca.

A negociação divide correntes políticas. De um lado, os que defendem pagar qualquer preço pelo retorno de Griner, calcados na tese de que uma vida americana vale mais do que a de qualquer criminoso. De outro, os que argumentam que a troca porá em risco as vidas de outros americanos no exterior, que serão facilmente feitos prisioneiros.

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Atualmente, há mais de 60 americanos presos nessas condições.

Ao contrário de Griner, a maioria é acusada de espionagem. O jornalista Jason Resaian, do “Washington Post”, conhece esse lugar de refém. Correspondente do jornal, passou 544 dias preso injustamente no Irã, sob acusações de espionagem, colaboração com governos hostis e propaganda contra o regime, até ser libertado, em janeiro de 2016, também em uma troca de prisioneiros.

“Griner é mantida refém na Rússia e foi condenada antes de ser presa”, tuitou ele, após a divulgação da sentença da atleta. As autoridades russas insistem em dizer que ela não é refém e está sob custódia da Justiça — tese que só ecoa no público interno. Se o custo de trocar uma atleta por um criminoso é alto, o de não fazer nada por ela e deixá-la apodrecer numa prisão russa será mais elevado e penoso para o presidente americano.