Debater alta do gasto público, que pressiona inflação e juros, será 'crucial', diz presidente do BC

Debater alta do gasto público, que pressiona inflação e juros, será 'crucial', diz presidente do BC
Roberto Campos Neto apontou que ações do novo governo, a partir de 2023, terão que levar em consideração sustentabilidade da dívida e impacto na população mais pobre. Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Alan Santos/PR

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira (15) que o debate sobre o aumento de gastos públicos vai estar presente em 2023, quando terá início um novo mandato presidencial.

"Vai ser uma questão crucial. Qualquer tipo de politica vai ter de olhar o lado da sustentabilidade da dívida e o lado social", avaliou, durante evento transmitido pela internet.

Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que subiu o juro básico da economia para 13,75% ao ano, o mais alto em seis anos, o BC manifestou preocupação com o aumento de gastos promovido por meio da "PEC Kamizaze" — que driblou a lei e turbinou benefícios sociais.

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A instituição avaliou, naquele momento, que o prolongamento dessas políticas "pode elevar os prêmios de risco do país" (resultando em juros mais altos para a população) e pressionar inflação à medida que pioram a trajetória das contas públicas.

Em evento promovido pelo Instituto Millenium nesta segunda, o presidente do BC lembrou de uma frase famosa de que "não existe nada mais permanente que um programa temporário do governo”.

"Então isso é sempre alguma coisa que nos aflige. O que hoje o mercado tem uma ansiedade em entender é como vai ser o fiscal do ano que vem. Se forem continuados [os gastos da PEC Kamikaze], como vão ser financiados? Existe uma ansiedade se tem de ter uma compensação fiscal, e se vai vir junto com uma reforma tributária. E como vai ser uma politica tributária", declarou.

Os dois candidatos à Presidência da República mais bem posicionados na corrida eleitoral deste ano, Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, prometem manter em R$ 600 o patamar mínimo para o Auxílio Brasil em 2023.

Lula tem falado em terminar com o mecanismo do teto de gastos, mecanismo que limita o crescimento da maior parte das despesas à inflação do ano anterior, enquanto a equipe econômica de Bolsonaro realiza estudos para sua troca por metas para a dívida pública.

Apesar de se mostrar preocupado com o aumento de gastos públicos, o presidente do BC também citou um efeito em sentido inverso, que ajudará a conter a inflação nos próximos anos: a desaceleração da economia mundial, com possibilidade "alta" de recessão, segundo ele.

Foco em 2024

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, também afirmou que o Copom, responsável por fixar a taxa básica de juros da economia com base no sistema de metas de inflação, preferiu "olhar um pouco à frente", referindo-se à decisão de calibrar a taxa Selic com base nas expectativas de inflação em 12 meses até março de 2024 (que é mais baixa).

Ao diminuir a importância do próximo ano no cenário para definição da taxa Selic, o BC indica que a meta de inflação pode ser descumprida em 2023 pelo terceiro ano seguido.

Para definir a taxa de juros, o Banco Central se baseia no sistema de metas de inflação. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o Banco Central reduz a Selic. Atualmente, a taxa Selic está em 13,75% ao ano.

O Banco Central deixou a porta aberta para uma nova subida dos juros em sua próxima reunião, marcada para meados de setembro, para 14% ao ano. Mas o mercado financeiro, segundo pesquisa realizada na semana passada, acredita que a instituição não subirá mais os juros neste ano.

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