Governo apaga frase sobre Revolução Acreana escrita em caixa d'água: 'Erro histórico'

Governo apaga frase sobre Revolução Acreana escrita em caixa d'água: 'Erro histórico'
Historiador explica que bairro Seis de Agosto não foi palco de batalha durante a Revolução Acreana. Localidade recebeu nome apenas em homenagem à história. '

Reprodução

Uma frase escrita na caixa d'água do bairro Seis de Agosto, no Segundo Distrito de Rio Branco, foi alvo de críticas nas redes sociais. A mensagem dizia que o bairro foi palco de batalha da Revolução Acreana, iniciada em 6 de agosto de 1902, para tomar o Acre do domínio boliviano. A afirmação foi apontada como uma 'fake news' e apagada após repercussão.

A frase, escrita na cor branca sobre a pintura azul, dizia: "Bairro 6 de Agosto. Palco de batalha da Revolução Acreana. O bairro Seis de Agosto nos orgulha com sua história".

Após a divulgação da foto, muitos apontaram o erro na história do Acre. Em conversa com o G1, o historiador Marcos Vinicius Neves esclareceu que, na verdade, não houve nenhuma batalha no Bairro Seis de Agosto. A região recebeu esse nome em homenagem à revolução, mas, não há registros de ter existido algum embate entre Plácido de Castro e os bolivianos no bairro.

No dia 6 de agosto de 1902, o gaúcho Plácido de Castro deu início à terceira tentativa de tornar o Acre um território independente. A data foi escolhida por ele estrategicamente, pois foi o mesmo dia em que a Bolívia comemorava sua libertação do domínio espanhol.

Na época, a localidade era apenas um varadouro que dava acesso ao Seringal Catuaba, por onde Plácido de Castro passou fugindo após perder um luta com a tropa boliviana.

Vinicius destacou que, na história, só houve duas lutas em Rio Branco, que na época era apenas um povoado chamado Volta da Empreza, na revolução. A primeira ocorreu próximo da Gameleira, onde hoje funciona o Colégio Imaculada Conceição, que terminou com a derrota de Plácido de Castro.

"Plácido de Castro tomou Xapuri em 6 de Agosto sem dar um tiro, não foi um combate, foi a tomada de Xapuri. Ele soube que as tropas bolivianas estavam vindo para a Volta da Empreza, que era Rio Branco, e veio com uns poucos saldados rápido para tentar emboscar os bolivianos. Foi em um campo que ele ficou emboscado esperando os bolivianos, só que os bolivianos já tinham chegado. Os brasileiros foram derrotados. Todo mundo duvidou que a guerra daria certo por conta disso", relembrou.

Escondido no Seringal Liberdade, o historiador destacou que Plácido de Castro reuniu os brasileiros e atacou o acampamento boliviano que estava no mesmo local onde houve o primeiro combate. "Essa baixa acabou no dia 15 de outubro de 1902. Os bolivianos foram expulsos da Volta da Empreza, após dez dias de combate, e nunca mais voltaram. A partir daí aconteceu uma série de outros combates que foram em outros lugares, até terminar tudo em Porto Acre no dia 24 de janeiro de 1903. Então, efetivamente, não houve nenhum combate, luta ou ação armada no varadouro do Catuaba [bairro Seis de Agosto], era só uma via de locomoção", pontuou.

Erro histórico

Marcos Vinicius frisou que a mensagem do governo tem informações inventadas e cometeu um grave erro com a história do Acre. "O erro está onde diz que foi palco da Revolução Acreana. É um erro histórico. Já que é uma mensagem do governo, tem que ser cuidadoso com isso", diz.

Ele falou também que pintar a estrutura de azul foi outro erro com a comunidade e que a cor não valoriza a história e nem cultural do bairro. A caixa d'água está no local desde a década de 70 e é tida pelas pessoas como referência.

"Quando o governo vai lá e intervém nessa referência, tem que garantir que as pessoas não se sintam agredidas com isso. É obrigação do governo. Os moradores antigos se sentiram agredidos porque é uma pintura política, na verdade, que não valoriza a história do bairro", salientou.

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