Senador flagrado com dinheiro na cueca pede ao STF extinção de processo que investiga desvio de recursos para pandemia

Senador flagrado com dinheiro na cueca pede ao STF extinção de processo que investiga desvio de recursos para pandemia
Defesa de Chico Rodrigues (DEM), alega "falta de justa causa penal" e que, emendas parlamentares do político, aprovadas para enfrentamento da pandemia, não têm relação com a fraude. Chico Rodrigues (DEM-RR)

Adriano Machado/ Reuters

O senador por Roraima, Chico Rodrigues (DEM), flagrado com dinheiro na cueca, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o arquivamento do processo que investiga o parlamentar pelo desvio de recursos públicos para o combate ao coronavírus em Roraima.

No pedido, enviado ao ministro Luís Roberto Barroso nessa segunda-feira (25), a defesa de Rodrigues alega "falta de justa causa penal" para o prosseguimento do inquérito em curso no órgão e que, emendas parlamentares do político, aprovadas para enfrentamento da pandemia, não têm relação com a fraude.

A defesa afirma que a investigação apura uma "alegada participação" de Chico nas supostas fraudes nos contratos de aquisição de testes rápidos para Covid, mas que a única menção ao nome do parlamentar no depoimento que originou o inquérito, é sobre a aprovação de uma emenda parlamentar dele.

A informação foi divulgada pelo jornal Roraima em Tempo. O g1 teve acesso ao documento nesta quarta-feira (27).

"A única menção ao nome do senador, é uma referência às emendas parlamentares que teriam sido aprovadas para enfrentamento da pandemia, aludindo que, a do referido parlamentar seria de R$ 19 milhões — sem que isso tenha qualquer conexão com a suposta fraude", explica trecho do documento.

Ainda de acordo com o pedido de 33 páginas, os valores em espécie encontrados pela Polícia Federal durante busca domiciliar na casa de Chico, "pode, sob um olhar imediatista e superficial, conduzir à falsa conclusão de que tais quantias teriam relação com o objeto investigado", ou seja, o desvio de recursos.

"No entanto, passado o episódio, mostra-se necessário revisitá-lo sob outra perspectiva, compreendendo o contexto em que se inserem as provas ora apresentadas pela defesa, o que, invariavelmente, levará à conclusão oposta, isto é, de que é impossível que os valores em espécie tenham qualquer relação com as contratações públicas investigadas, porquanto a sua origem é declarada e sua destinação predeterminada", ainda conforme a defesa.

A documento diz, ainda que, questionado sobre os valores encontrados, o senador explicou que o dinheiro era destinado ao pagamento de funcionários da empresa de sua família.

O g1 entrou em contado com a assessoria de Chico e aguarda reposta. Agora, o pedido deverá ser apreciado pelo ministro Barroso, relator do inquérito.

Alvo da Operação Desvid-19

No dia 14 de outubro de 2020, o senador Chico Rodrigues foi alvo da Polícia Federal durante a "Operação Desvid", deflagrada para combater um suposto esquema criminoso de desvio de recursos públicos para o combate da doença no estado.

Conforme a PF, o parlamentar tentou esconder dinheiro na cueca quando agentes federais cumpriam mandados de busca na casa dele, em uma área nobre de Boa Vista.

A quantia de R$ 33.150, foi percebida pelo delegado responsável pelo caso, após Rodrigues pedir para ir ao banheiro, Nesse momento, foi visto um "volume estranho na parte traseira da roupa" do político.

À época, Chico Rodrigues que, até então era vice-líder do governo no Senado, afirmou que não tinha envolvimento com qualquer ato ilícito.

No dia 15 do mesmo mês, o ministro Barroso determinou o afastamento do senador por 90 dias em razão da "gravidade concreta" do caso. O flagrante dos policiais foi registrado em vídeos.

Já no dia 20, foi a vez do senador protocolar na Mesa Diretora do Senado, um pedido de afastamento do mandato por 90 dias.

Partidos políticos chegaram a protocolar uma representação no Conselho de Ética do Senado com o objetivo de cassar o mandato de Chico.

No entanto, horas após ter pedido a licença ele protocolou uma retificação, ampliando o período de 90 para 121 dias. Pedro Arthur Ferreira Rodrigues, filho e primeiro suplente de Chico, foi quem assumiu o mandato. O parlamentar reassumiu o cargo em fevereiro desse ano.

No retorno, o senador disse em um post em rede social, que encaminhou uma carta aos colegas com explicações sobre o ocorrido. No documento, Rodrigues negou irregularidades e disse que agiu dominado "pelo pânico e pelo medo".