Governo Fernández perde maioria no Senado nas eleições legislativas da Argentina

Governo Fernández perde maioria no Senado nas eleições legislativas da Argentina
Vai ser a 1ª vez em quase 40 anos que coalizão peronista precisará de aliados para aprovar projetos no Legislativo. Resultado é visto como 'punição' ao governo por causa da alta inflação e aumento da pobreza. Coalizão Juntos pela Mudança celebra vitória nas eleições legislativas na Argentina neste domingo (14)

Alejandro Pagni/AFP

O presidente Alberto Fernández sofreu um importante revés nas eleições legislativas de meio de mandato na Argentina, realizadas neste domingo (14), em meio à insatisfação generalizada sobre a alta inflação e o aumento da pobreza, com sua coalizão governista perdendo o controle do Senado e ameaçada de perder a posição de maior bloco na Câmara dos Deputados.

Segundo a contagem oficial, a oposição obteve 40,1% dos votos na província de Buenos Aires, maior centro populacional do país, enquanto a coalizão do presidente obteve 38,4%. Juntos pela Mudança também liderou em Santa Fé, Córdoba e na cidade de Buenos Aires, outros distritos com importante peso eleitoral.

A participação na eleição foi de 71%, o menor percentual desde o retorno da democracia.

Os eleitores escolheram 127 deputados, representando metade das cadeiras na Câmara dos Deputados, e 24 senadores em oito províncias, o que é um terço da Câmara.

A posse dos novos parlamentares está prevista para dezembro. Será a primeira vez desde 1983 que o peronismo precisará de aliados garantir a aprovação das leis enviadas pelo Executivo, segundo o jornal 'Clarín'.

Argentina vai às urnas para eleições legislativas neste domingo (14)

O triunfo da coalizão de centro-direita Juntos pela Mudança significará duros últimos dois anos de mandato para o presidente, que deve lidar com a aguda crise social e também buscar um acordo de refinanciamento de dívidas com o Fundo Monetário Internacional para estabilizar a economia. Também pode intensificar as divisões dentro da coalizão governante.

Na Argentina, o vice-presidente também tem o cargo de presidente do Senado. Portanto, o cargo é ocupado por Cristina Kirchner. Atualmente, ela consegue controlar, pois a maioria dos senadores é da coligação governista.

'Punição' ao governo

O resultado foi visto como um voto de "punição" contra o governo Fernández pelo desemprego e outras dificuldades que acompanharam uma queda de 10% na economia argentina no ano passado, junto com a contínua alta da inflação.

Mais de 40% dos 45 milhões de habitantes do país vivem na pobreza, o desemprego está perto de 10% e a inflação em outubro atingiu uma taxa anual de quase 42%.

María Eugenia Vidal, líder da coalizão de oposição eleita para a Câmara dos Deputados da cidade de Buenos Aires, disse que ficou comovida com o resultado.

"Milhões de argentinos em todo o país disseram 'chega'... Eles disseram 'chega' e derrotaram a tristeza, a frustração, a raiva", disse Vidal.

Discurso de Fernández

Alberto Fernández em discurso neste domingo (14)

Juan Mabromata/AFP

Em mensagem gravada, o presidente da Argentina reconheceu que cometeu erros, mas disse que a economia está crescendo cerca de 9% este ano e previu que o prejuízo de 2020 seria compensado no início de 2022.

Fernández disse que isso poria fim a "um muito estágio difícil" trazido pela recessão, que ele atribui ao seu antecessor, e pela pandemia do coronavírus.

O governo também foi prejudicado pela percepção de crescente insegurança e uma série de escândalos, incluindo violações por Fernández e pessoas próximas a ele de restrições de saúde na pandemia

Ele também teve desentendimentos públicos com a vice-presidente, a ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner. Analistas disseram que os dois políticos, que não são parentes, estão em um momento difícil.

Um obstáculo difícil é a necessidade de um acordo com o FMI para refinanciar a dívida de cerca de US$ 45 bilhões deixada pelo governo anterior, liderado por Mauricio Macri de 2015 a 2019.

Cristina Fernández promoveu a candidatura presidencial de Fernández em sua campanha vitoriosa para derrotar Macri nas eleições de 2019, mas eles divergem quanto à política econômica e às negociações com o FMI.

O presidente defende não adiar um acordo com o FMI para acalmar os mercados financeiros, o que implicaria em cortes nos gastos públicos que vão de encontro à visão mais populista de seu vice-presidente.

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com informações da AP