'Também existimos nesse mundo', diz muçulmana que virou ateia

'Também existimos nesse mundo', diz muçulmana que virou ateia
Rana Ahmad fugiu da Arábia Saudita em 2016, quando seu irmão tentou matá-la por ser ex-muçulmana. Vivendo na Alemanha e longe dos costumes, ela ainda se sente desamparada. Conheça Rana Ahmad, a muçulmana que virou ateia e fugiu para a Alemanha

Rana Ahmad fugiu da Arábia Saudita para a Alemanha em 2016 após ser ameaçada por se reconhecer como uma "ex-muçulmana".

"Para mim, este é um termo muito importante para nós", disse Rana, ex-muçulmana, em entrevista à DW. "Também existimos neste mundo."

"Também nos países muçulmanos, existem muitos ex-muçulmanos que têm medo de revelar a sua identidade porque podem ser assassinados. Também não somos tão conhecidos na Alemanha porque nós, como ex-muçulmanos, não temos muito apoio."

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Montagem mostra Rana Ahmad na Arábia Saudita (esq.) com o hijab, e na Alemanha (dir.) em fotos sem data

Reprodução/Instagram/rana.ahmad3

Sua experiência pessoal de discriminação na Arábia Saudita está descrita em sua autobiografia, de 2018: o best-seller "Frauen dürfen hier nicht träumen" (Mulheres não podem sonhar aqui, em tradução livre).

Quando ela virou ateia, seu irmão tentou matá-la. Rana também se sente ameaçada na Alemanha, onde vive hoje, após escapar.

"A direita odeia a todos: sejam muçulmanos ou ex-muçulmanos, ou qualquer tipo de pessoa que você seja. Eles odeiam a migração e não querem que ninguém venha para a Alemanha", disse Rana.

"Já a esquerda sempre comete o erro de trabalhar demais com as associações muçulmanas na Alemanha. Não somos de direita, não somos de esquerda, somos realistas. Somos o povo que há muito tempo tem sido discriminado pelos muçulmanos e pelo islã político em nossos países."

Em outubro, Rana participou de um protesto em frente à maior mesquita da Alemanha contra a decisão de que, no futuro, possa-se ouvir o muezim, a chamada para a oração nas mesquitas.

Rana associa a decisão à supressão dos direitos humanos e das mulheres. Em uma performance artística, ela expressa o que o chamamento à oração provoca nela.

Rana Ahmad em performance contra a opressão às mulheres pela religião

Reprodução/Instagram/rana.ahmad3

"Tentamos lutar. Para que tenhamos o direito de expressar livremente nossas opiniões. Se você tenta criticar o islã na Alemanha, é imediatamente tachado de islamofóbico ou de direita", afirmou.

"Eu não sou da Alemanha. Eu sou de um mundo completamente diferente, mas que é retratado dessa forma nas redes sociais e em outras mídias", disse a ex-muçulmana.

Rana está escrevendo um novo livro sobre sua experiência como ex-muçulmana na Alemanha. Ela espera que outras pessoas que desistem de suas crenças também sejam mais ouvidas.