Norteado pela poética dos povos da floresta, Amazônia Mapping ocupa centro histórico de Belém

Norteado pela poética dos povos da floresta, Amazônia Mapping ocupa centro histórico de Belém
Mostra de abertura do FAM, neste sábado, 4, às 19h, ocupa fachada do centro histórico de Belém com arte e tecnologia a partir de narrativas dos povos da floresta e sua perceptiva decolonial. Desnudar a própria história é um caminho revolucionário e poético. Repensar a origem de Belém é trazer para o centro do palco a vivência dos povos indígenas, pretos, ribeirinhos. Neste sábado (4), a voz e a visualidade do povo da floresta ocupam a fachada do Forte do Castelo, no Festival Amazônia Mapping 2021, de 19h às 22h.

A abertura da programação traz a mostra “Remapeando Olhares”, no local de fundação da capital paraense. O espaço reserva traços da arqueologia indígena pré-colonização, que contrasta com equipamentos bélicos de quando o forte foi fundado, em 1616, e remonta aos capítulos iniciais da trajetória de Belém.

Obra de Carol Santana integra mostra FAM 2021

Divulgação

Neste local emblemático, o festival projeta obras dos artistas indígenas Yaka Sales Hunikuin, Márcia Kambeba, e do coletivo Casa Comum, que reúne artistas os amazônicos Alcimar Vieira Reis, André Sateré Mawé, Elizete Tikuna, Emerson Uyra, Jaqueline Santos, Jayne Kira, Rafa Militão, Rafael Bqueer, Roberta Carvalho, Wellington Dias, os premiados cineastas Takumã Kuikuro do Xingú e Rafael Ramos, de Manaus, o artista sonoro Daniel Castanheira, do Rio de Janeiro, e a produtora criativa Verlene Mesquita, de Manaus. Do Pará, PV Dias participa da mostra, que conta ainda com Leandro Mendes Vigas (SC) e Carol Santana (RJ).

“Depois de uma edição totalmente online durante a pandemia, essa volta pras ruas, a volta a esse lugar tão simbólico para cidade, é uma oportunidade de trazer novas camadas e debater este espaço sob uma perspectiva decolonial, com a presença de artistas indígenas, questões ambientais que atravessam a região amazônica. O universo dessas obras é muito forte esteticamente e trazem temas importantes e provocadores”, destaca Roberta Carvalho, idealizadora e curadora do FAM. “Vamos projetar em todo o paredão externo do Forte. Vamos debater questões da nossa história e do agora. A arte é essa ferramenta”, completa. Este ano o festival tem o patrocínio da Oi via Lei de Incentivo à Cultura Semear, Governo do Estado do Pará e Fundação Cultural do Pará, apoio do Oi Futuro e Amplify, através da British Council, Summerset House Studios, Mutek e ArtLab. Realização da produtora 11:11 ARTE.

Obra do paraense PV Dias

Divulgação

Amazônia plural

A maior floresta tropical do mundo é híbrida. Indígena, preta, urbana, ribeirinha, ancestral e tecnológica. As múltiplas vozes que ecoam neste território compõem a mostra “Remapeando Olhares”, no Forte do Castelo.

A poesia de Marcia Kambeba integra a ocupação. Escritora, compositora, ativista e fotógrafa, ela retrata a territorialidade indígena da aldeia e cidade. Seus poemas retratam a vivência, identidade dos povos e chama para um pensar reflexivo da aldeia e da cidade numa linha decolonial.

A mostra traz a obra HAUX, projeto em parceria entre a artista plástica Huni Kuin Yaka Sales, da aldeia Xiku Kurumim, no Acre, e Carol Santana, artista visual do Rio de Janeiro, um destaque da cena de vídeo mapping brasileira. A obra traz a voz e a força da floresta, enfatizando a Sananga, colírio medicinal da floresta amazônica, magia da visão, da coragem, da percepção da verdade em nosso entorno.

A ocupação recebe o vídeo-arte “Casa Comum”, termo usado nas cosmovisões indígenas, no qual se refere ao planeta Terra como um lar para todos os seres vivos - um conceito enfatizado por Ailton Krenak na conferência de Lisboa em 2017. O projeto é uma experiência híbrida, entre uma colaboração digital virtual e uma imersão presencial na Amazônia, com o povo indígena Sateré Mawé , num trânsito profundo entre floresta, rios e cidade, o grupo de artistas se lançou, tendo o audiovisual, a performance, as artes visuais e sonoras como suporte para pensar a ideia do planeta como uma casa comum, a importância das vozes amazônidas e das cosmovisões indígenas para o planeta hoje, a crise climática e humanitária que vivemos e os impactos da era do Antropoceno no mundo.

Outro artista convidado é PV Dias, que é paraense e vive entre o Rio de Janeiro e o Pará. Em sua pesquisa, o artista ecoa movimentos estéticos populares que também partem desse norte geográfico brasileiro, se debruça para pensar os elementos audiovisuais que os constroem, e os trajetos por eles tomados. Na obra “Brega, a dança”, que será exibida nas paredes do Forte em Belém, PV apresenta a dança como rastros visuais de um movimento estético, os passos de brega existem enquanto reação do corpo a uma musicalidade e um gênero amazônida, que além do ritmo sonoro, carrega uma visualidade extremamente rica e original.

A denúncia sobre a devastação da floresta é o norte do trabalho de Leandro Vigas, VJ de Santa Catarina. Ele preparou uma obra que utiliza dados reais coletados no período de um ano por satélites e estações meteorológicas para gerar o conteúdo visual. Através dessas peças, o artista propõe um ponto de reflexão sobre a ação humana e seus impactos no meio ambiente.

Serviço

Festival Amazônia Mapping 2021 - Abertura presencial neste sábado, 4, no Forte do Castelo, às 19h. Mais infos e inscrições para oficinas no site oficial do Festival: www.amazoniamapping.com.