Operadoras aceitam atrasar ativação do 5G perto de alguns aeroportos dos EUA

Operadoras aceitam atrasar ativação do 5G perto de alguns aeroportos dos EUA
Após novo pedido de companhias aéreas, AT&T e Verizon decidiram estrear nova faixa do 5G no país, mas limitar as antenas em alguns locais. 5G

Josep Lago/AFP

As operadoras de telefonia AT&T e Verizon vão atrasar a ativação da rede 5G em torno de "certos aeroportos" dos Estados Unidos para evitar o potencial "caos", temido por companhias de aviação.

A partir desta quarta-feira (19), AT&T e Verizon começam a ativar uma nova faixa da tecnologia em todo o país, mas seguirão uma recomendação da agência americana de aviação, a FAA, que alertou sobre possíveis interferências entre as frequências usadas pela 5G e instrumentos de voo essenciais para a aterrissagem de aeronaves em certas condições.

Por enquanto, a FAA validou o uso de alguns modelos de altímetros e deu seu aval para 48 de 88 aeroportos americanos que estão entre os mais diretamente afetados pelos riscos de interferência, impondo restrições em alguns casos.

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As aéreas afirmam que o uso da Banda C (faixa que utiliza o espectro entre 3.7 GHz a 6.425 GHz) no 5G poderia interferir em componentes eletrônicos da aeronave, especialmente os altímetros (medidores de altitude).

Esse equipamento opera por rádio nas aeronaves e usa frequências próximas ao 5G. Eles são responsáveis por calcular a distância exata do avião em relação ao solo, usados especialmente em operações de pouso por instrumentos, quando a visibilidade na pista está reduzida, para evitar acidentes e colisões.

Diretores de 10 empresas de transporte aéreo alertaram na última segunda-feira (17) para "caos" em potencial que representaria a ativação perto de alguns aeroportos e pediram uma intervenção às autoridades para evitar "uma perturbação operacional para os passageiros, os trabalhadores de transporte, as redes de abastecimento e a entrega de bens médicos essenciais".

As operadoras de telefonia, que já tinham adiado duas vezes a ativação da 5G desde dezembro, aceitaram retardar temporariamente a ativação das torres de telefonia móvel em volta de certas pistas de aeroportos, enquanto continuam com o lançamento da rede no resto do país.

A AT&T decidiu, por exemplo, não ativar as torres instaladas em um perímetro de 3,2 km em torno dos aeroportos especificados.

O presidente Joe Biden agradeceu às duas operadoras em um comunicado. Segundo ele, a decisão evita perturbar o tráfego aéreo e permite a ativação da imensa maioria das torres de telefonia móvel 5G, elemento essencial para a competitividade do país.

Especialistas da Casa Branca vão continuar trabalhando "sem descanso" com as operadoras de telefonia, as companhias aéreas e as fabricantes de aviões para encontrar "uma solução permanente e funcional em torno destes aeroportos-chave", assegurou.

Frustração

A decisão foi tomada para "continuar trabalhando com a indústria aeronáutica e a FAA" e "fornecer informações mais amplas" sobre a nova tecnologia, segundo a AT&T.

As duas operadoras lamentaram, no entanto, que as autoridades tenham demorado tanto em reagir à ativação da 5G, prevista há pelo menos dois anos.

A FAA e as companhias aéreas do país "não foram capazes de resolver a problemática da 5G em torno dos aeroportos, embora a tecnologia tenha sido ativada de forma segura e eficaz em mais de 40 países", destacou um porta-voz da Verizon em mensagem transmitida à agência de notícias AFP.

"Estamos frustrados com a incapacidade da FAA de fazer o que quase 40 países fizeram, que é ativar com toda a segurança a tecnologia 5G sem perturbar os serviços aéreos", destacou a AT&T em mensagem à parte.

A questão das consequências da ativação da 5G nos Estados Unidos começou a ganhar força em novembro, após a publicação pela FAA de um boletim especial, pedindo às empresas afetadas para compartilhar informações específicas sobre os altímetros, radar que mede a distância que separa o avião do solo e é essencial para pousar de noite ou em caso de visibilidade ruim.

Certas frequências disponibilizadas para a AT&T e Verizon em fevereiro de 2021 ao fim de uma licitação de dezenas de bilhões de dólares, que vão de 3,7 a 3,98 GHz, são próximas às usadas pelos altímetros, que funcionam no espectro de 4,2 a 4,4 GHz.

Embora não haja risco de interferência direta entre as frequências, a intensidade da emissão das antenas 5G ou parte de suas emissões poderiam gerar problemas em certos altímetros.

Em dezembro, as fabricantes de aeronaves Airbus e Boeing também expressaram "preocupação" sobre possíveis perturbações nos instrumentos de seus aviões pela 5G nos Estados Unidos, pois o país escolheu frequências mais próximas das de seus altímetros do que as usadas na Europa, na Coreia do Sul e no Brasil.