Partido separatista pode se tornar o maior no Parlamento da Irlanda do Norte e nomear primeira-ministra

Partido separatista pode se tornar o maior no Parlamento da Irlanda do Norte e nomear primeira-ministra
Sinn Fein, partido que tem suas origens no Exército Republicano Irlandês (IRA), pode ser o mais votado nas eleições da Assembleia da Irlanda do Norte. Michelle O'Neill, do Sinn Fein, em abril de 2022

Paul Faith / AFP

O Sinn Fein, um partido da Irlanda do Norte que foi o braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA), pode se tornar o mais votado da Assembleia do país —o que aconteceria pela primeira vez— em eleições legislativas marcadas para esta quinta-feira (5).

O partido é liderado por Michelle O'Neill, de 45 anos. Atualmente, ela é a vice-primeira-ministra do governo compartilhado com o partido unionista DUP.

O Sinn Fein, formado em sua maioria por católicos e republicanos (ou seja, contrários à monarquia) é favorável à integração com a Irlanda, o país com o qual a Irlanda do Norte divide a ilha.

Já os unionistas do DUP, em sua maioria protestantes e monarquistas, são favoráveis a manter a Irlanda do Norte como parte do Reino Unido.

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O'Neill, a líder do Sinn Fein, pode se tornar a primeira líder da Irlanda do Norte com origem no movimento nacionalista e católico.

Isso marcaria um ponto de virada para o partido e para o Reino Unido e a Irlanda um século após a criação do que os unionistas chamam de "Estado protestante para um povo protestante" na Irlanda do Norte.

Sinn Feinn

O IRA, o exército republicano, abandonou a violência na década de 1990. Em 1998, foram assinados acordos de paz que encerraram três décadas de conflito sangrento.

Desde então, o Sinn Fein tornou-se mais presente no cenário político.

Em 2018, o líder histórico do partido, Gerry Adams, cedeu seu lugar a uma nova geração liderada por O'Neill.

Michelle O'Neill, profundamente republicana com um pai que foi preso por atividades relacionadas ao IRA, enfatiza em sua campanha questões como poder aquisitivo e acesso à saúde.

Pauta econômica

A razão de existência do Sinn Fein é a reunificação da ilha, mas o que tem feito o partido subir nas pesquisas são suas postulações econômicas, que atraem um eleitorado mais jovem —o partido tem feito campanha falando dos problemas de moradia e emprego desde a crise financeira de 2008.

"Eles têm líderes mais jovens e dinâmicos, como Mary Lou McDonald e Michelle O'Neill, que se expressam bem e atacam o status quo", diz Deirdre Heenan, professora de política social da Universidade de Ulster.

Segundo ela, não há opinião atual a favor de um referendo sobre a reunificação. "Depois do Brexit, as pessoas querem estabilidade e alguém para lidar com a crise do custo de vida", diz.

As tendências eleitorais e demográficas favorecem os nacionalistas, já que a população unionista está envelhecendo mais rápido, de acordo com Heenan.

"É extraordinário que um partido político possa reivindicar uma mudança real depois de estar no poder por 14 anos", diz Heenan. "Eles concorrem ao mesmo tempo como oposição e governo" devido a sua coalizão com o DUP.

Avanço do partido

Embora a vitória pareça mais próxima do que nunca, o avanço do Sinn Fein tem sido constante desde 2007 na Irlanda do Norte —naquele ano, Martin McGuinness, um ex-comandante do IRA, foi eleito vice-primeiro-ministro ao lado do fundador do DUP, Ian Paisley, um pastor protestante.

McGuinness formou uma aliança improvável com Paisley. A dupla deu certo e ganhou o apelido de "Chuckle Brothers". Ambos já morreram.

Dos 90 assentos na Assembleia da Irlanda do Norte, o Sinn Fein detém atualmente 26, o mesmo que o DUP. Embora tenha se afastado de suas raízes militantes e socialmente conservadoras, o partido ainda não reconhece nenhuma soberania britânica na Irlanda, e sete de seus atuais parlamentares se recusam a sentar-se na Câmara dos Comuns em Londres.

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