Começam negociações políticas na Itália sobre futuro do governo

Começam negociações políticas na Itália sobre futuro do governo
Primeiro-ministro, Mario Draghi, anunciou que deixaria o cargo após perder apoio do Movimento 5 Estrelas, mas presidente rejeitou renúncia. Primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, durante encontro dos líderes do G7 na Alemanha, no dia 26 de junho de 2022

REUTERS/Lukas Barth

Os partidos políticos italianos iniciaram nesta sexta-feira (15) negociações para decidir o futuro do governo de Mario Draghi.

Na quinta-feira (14), o primeiro-ministro da Itália informou que vai renunciar o cargo, após perder o apoio do Movimento 5 Estrelas, um dos principais partidos do país. Mas a renúncia foi rejeitada pelo presidente Sergio Mattarella.

Draghi, que deve fazer uma viagem oficial à Argélia na semana que vem, deverá comparecer ao Parlamento na próxima semana para verificar se tem apoio para permanecer no poder, conforme previsto na Constituição.

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O premiê perdeu o apoio do M5E, que se absteve de votar uma moção de confiança sobre um decreto-lei que considera contrário aos seus princípios.

As negociações para formar uma nova maioria no governo e evitar eleições antecipadas ocuparão o fim de semana, já que os cenários e as possibilidades são muito variados.

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Para muitos observadores, é possível que Draghi aceite um segundo mandato com uma maioria diferente, sem o M5E. Isso teria consequências políticas, pois excluiria o vencedor das eleições legislativas de 2018.

Por enquanto, nada vazou sobre a posição dos antissistemas. A sigla deixou a porta aberta para o diálogo para recompor o governo, mas, ao mesmo tempo, tende a deixar o Executivo.

"Discutimos, tomamos nota da renúncia de Draghi e continuaremos discutindo", disse seu líder, Giuseppe Conte.

Por sua vez, o Partido Democrata (PD, esquerda), entre os principais membros da coalizão que apoia Draghi, prometeu trabalhar para uma solução rápida.

"Temos cinco dias para o Parlamento confirmar a confiança no Executivo de Draghi e para a Itália sair deste momento dramático", escreveu seu líder, Enrico Letta, no Twitter.

Antecipar as eleições?

O maior temor dos partidos de esquerda e de centro é que as eleições legislativas sejam antecipadas em seis meses, já que quase todas as pesquisas apontam a direita e a extrema-direita como favoritas.

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"Vários líderes políticos acreditam que eleições antecipadas seriam um resultado desejável, porque o governo praticamente perdeu sua capacidade de adotar novas reformas e tomar decisões politicamente difíceis", comentou à agência de notícias France Presse Lorenzo Codogno, economista e professor visitante da London School of Economics.

"Uma eleição antecipada encurtaria uma campanha eleitoral que, de outra forma, seria dolorosamente longa e impediria o governo de funcionar normalmente", ressaltou.

Já a direita vacila, porque está dividida.

Os partidos Forza Italia, de Silvio Berlusconi, e Liga, de Matteo Salvini, os dois integrantes da coalizão de governo, têm dificuldades em explicar os motivos para retirar seu apoio a Draghi em um momento delicado para o país, devido ao aumento da inflação, à nova onda de covid e às consequências da guerra na Ucrânia.

A grande beneficiada seria a líder de extrema-direita, Georgia Meloni, do Fratelli d'Italia (Irmãos da Itália), que sempre se manteve na oposição, conquistando, assim, históricos 25% de apoio do eleitorado, de acordo com as pesquisas.

Enquanto o direitista Salvini pede eleições antecipadas, Berlusconi se limita a manifestar sua preocupação com a situação econômica e social do país.

A atual lei eleitoral obriga o partido, no entanto, a se apresentar em coalizão com outras formações de direita que atualmente apoiam Draghi.

A crise política da terceira maior economia da União Europeia também levanta muitas questões em todo Velho Continente.

"Em Moscou, estão brindando, serviram a (Vladimir) Putin a cabeça de Draghi em uma bandeja", ironizou o ministro das Relações Exteriores da Itália, Luigi Di Maio, que abandonou há um mês os antissistema, levando com ele cerca de 50 parlamentares para um novo partido.