A Índia passou a China e se tornou o país mais populoso do mundo; a economia indiana pode crescer em ritmo 'chinês'?

A Índia passou a China e se tornou o país mais populoso do mundo; a economia indiana pode crescer em ritmo 'chinês'?
A Índia tem potencial para aproveitar a mesma vantagem que a China tem: muita mão de obra. No entanto, especialistas afirmam que dificilmente o país vai conseguir crescer a taxas tão altas como as da China nas últimas décadas. Rua de Nova Deli em novembro de 2020

Adnan Abidi/Reuters

Nas últimas décadas, a China aproveitou o tamanho da sua população para expandir sua economia: o país se posicionou como um produtor que consegue entregar bens a baixos preços porque tem baixos custos —os salários chineses eram muito mais baixos quando a China começou a crescer a taxas muito altas, na década de 1990 e de 2000.

Neste mês, a Índia, um vizinho da China, tornou-se o país mais populoso do mundo, com 1,428 bilhão de pessoas, de acordo com a ONU. A China tem 1,425 bilhão, também segundo as estimativas da ONU.

A Índia tem potencial para aproveitar a mesma vantagem que a China tem: muita mão de obra. Isso, em alguma medida, já aconteceu, o PIB foi quadruplicado em uma geração. O país vai crescer economicamente, e em alguns anos, a taxa será maior até mesmo que a da China —Sanghamitra Singh, do Instituto de População da Índia, afirma que, no último ano, a Índia cresceu 7%, e a China, 3% (um dos piores desempenhos da China em muitos anos).

Mas, de acordo com analistas, a Índia dificilmente terá um longo período de crescimento "chinês". De 1990 para cá, a China foi o país que mais cresceu economicamente na história, de acordo com o "New York Times". A economia chinesa, hoje, é cerca de cinco vezes maior que a indiana.

Projeção mostra quais devem ser os tamanhos da populações de Índia e China e o PIB per capita dos dois países

Kayan Albertin/g1

Veja abaixo três diferenças significativas que fazem com que a Índia tenha mais dificuldade para ter um "boom" econômico semelhante ao que a China teve:

Infraestrutura para indústria.

Participação das mulheres na população economicamente ativa.

Centralização política.

Um setor industrial menos pujante

Nas últimas décadas, as indústrias que poderiam se instalar na Índia foram desencorajadas por uma infraestrutura deteriorada e regulamentações antiquadas, de acordo com o "Financial Times".

A indústria é 15% do PIB da Índia, uma porcentagem relativamente baixa.

Estação de trem em Mumbai, em janeiro de 2023

Niharika Kulkarni/Reuters

Os empregos em indústria, tradicionalmente, geram mais renda do que nos outros setores (agricultura e serviços). Sem um aumento significativo da participação da indústria no total do PIB, dificilmente a Índia terá um crescimento a taxas muito elevadas.

O primeiro-ministro Narendra Modi tem se esforçado para alterar essas condições porque quer que o país se torne um concorrente da China. O país tem tido algum sucesso nessa tentativa, por exemplo, em poucos anos, a Índia passou a produzir 7% dos smartphones no mundo, de acordo com o "New York Times".

Sanghamitra Singh, do Instituto de População da Índia, aponta que a pirâmide etária dos dois países favorece a Índia: "Tanto a China como a Índia têm uma população de cerca de 1,4 bilhão de pessoas. A população jovem da China, agora, está em declínio, e em um prazo médio isso pode ter um impacto na indústria chinesa, que eles conseguiram instalar a duras penas. Isso vai implicar em desafios e oportunidades para a Índia".

Uma participação pequena das mulheres na força de trabalho

Sanghamitra Singh, do Instituto de População da Índia, diz que "dado que as mulheres são cerca de 50% da população, é necessário investir mais para que as mulheres entrem na força de trabalho e contribuam para o progresso da nação".

O motivo pelo qual ele diz isso é que, na Índia, a participação das mulheres na força de trabalho é muito baixa.

Mulheres em Bangalore, na Índia, em outubro de 2006

Jagadeesh Nv/Reuters

Neste ano, 24% das mulheres em idade de trabalho (15 anos ou mais) do país de fato trabalham. Já na China, essa porcentagem é de 61,3%.

Ou seja, o grande potencial da Índia, que seria o tamanho da população economicamente ativa, é torpedeado pela baixa participação de mulheres no mercado de trabalho.

Há vários motivos que explicam isso, entre eles:

Não há uma tradição de indústrias que empregam mais mulheres, como a têxtil.

O conservadorismo impede as mulheres de trabalhar.

Um governo centralizado

Narendra Modi e Xi Jinping durante troca de presentes em outubro de 2019

Divulgação/Via AFP

A Índia e a China têm governos diferentes: o primeiro é uma república parlamentarista, e o segundo, uma república comunista de um partido só.

Isso permitiu que os governos da China desde a revolução pudessem consolidar poder e unificar políticas no país inteiro, e a Índia é mais descentralizada.

Rio Ganges em Varanasi, em 7 de março de 2023

Joseph Campbell/Reuters

A partir da década de 1970, o foco desse governo chinês mais centralizado foi crescer economicamente, com foco em exportações. A China fez isso antes. A Índia abriu mais a economia dela cerca de dez anos mais tarde, e é uma democracia na qual os conflitos de interesse (por exemplo, de capital versus classe trabalhadora) não são decididos por um governo não eleito.