Ultradireitista Javier Milei cooptou o voto do protesto e do desencanto na Argentina

Em primeiro lugar nas primárias, candidato embaralha campanha política, mas necessita de uma organização partidária que o sustente.

Em primeiro lugar nas primárias, candidato embaralha campanha política, mas necessita de uma organização partidária que o sustente. Candidato da extrema direita lidera primárias na Argentina

Ultradireitista, populista e libertário. A vitória contundente de Javier Milei nas primárias argentinas embaralhou o cenário político e castigou duramente tanto os peronistas que estão no governo quanto os opositores.

As primárias na Argentina são uma votação obrigatória para definir os candidatos que concorrerão às eleições presidenciais, que acontecem em outubro no país. Por lei, todos os partidos são obrigados a fazer prévias, que acontecem em um único dia.

Os 70 dias que restam até as eleições presidenciais são desafiadores para as campanhas de Sergio Massa, o atual ministro da Economia e representante do peronismo, e Patricia Bullrich, que liderou a votação da coalizão opositora Juntos pela Mudança.

Com suas frases de efeito, Milei agregou o voto do protesto e do desencanto, sentimentos que nutrem parte da sociedade argentina. No discurso de vitória, o candidato do partido A Liberdade Avança despejou a verborragia contra o modelo de castas políticas e apontou a justiça social como fraude e aberração – "injusta porque implica tratamento desigual perante a lei e é precedida de roubo".

Com seu estilo agressivo, sua campanha segue um roteiro semelhante aos que embalaram as trajetórias de Donald Trump, nos EUA, Jair Bolsonaro, no Brasil, e Nayib Bukele, em El Salvador.

Como outsider, o economista de 52 anos cooptou a atenção e o voto dos argentinos que estão em dificuldades, diante de uma inflação de três dígitos e não encontram soluções nas forças políticas tradicionais. Entrou em áreas populares com raízes no peronismo.

Entre as ideias radicais, Milei propõe a eliminação do Banco Central e a dolarização da economia, além de uma reforma trabalhista que aboliria a indenização sem justa causa. É contra o aborto, a educação sexual nas escolas; defende o fim da educação gratuita a privatização gradual da saúde e o livre comércio de órgãos humanos.

Mas, como resumiu o editor-chefe do "Clarín", Ricardo Kirschbaum, a disputa por uma vaga no segundo turno vai precisar de algo mais do que gritos e gestos que lhe renderam tão bons resultados ao se mostrar como destinatário do estado de desconforto e da falta de oportunidades.

"Em outubro, é preciso construir a maioria, não ser apenas o candidato mais votado", vaticinou o jornalista.

É esse o desafio maior do candidato de extrema direita, que conquistou 30% das preferências do eleitorado nas primárias e conclamou seus partidários à vitória no primeiro turno. Porém, ao contrário de seus adversários, para assegurar a governabilidade, Milei necessita de uma organização partidária que o sustente nas duas casas do Congresso.

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