A COPEIRA DE 120 MILHÕES: Ex-funcionária de advogado diz que foi usada como "laranja" em empresas de doleiro

Em reportagem exclusiva, o site O Bastidor revela que uma ex-funcionária do escritório Almeida Advogados, que trabalhou por 16 anos para o advogado André de Almeida Rodrigues, revela em ações na Justiça que foi usada como ‘laranja’ em empresas do polêmico doleiro Lúcio Funaro.

Foto: Reprodução internet

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Em reportagem exclusiva, o site O Bastidor revela que uma ex-funcionária do escritório Almeida Advogados, que trabalhou por 16 anos para o advogado André de Almeida Rodrigues, revela em ações na Justiça que foi usada como ‘laranja’ em empresas do polêmico doleiro Lúcio Funaro.

Com salário de R$ 3 mil no escritório, a copeira alegou total desconhecimento em relação às empresas sob sua responsabilidade e que confiou plenamente no advogado para assinar muitos documentos. Ela foi demitida do escritório por justa causa após virar alvo de investigações e afirmar às autoridades policiais que não administrava as empresas do doleiro.

A defesa da ex-funcionária aponta que se ela tivesse sido, de fato, administradora ou sócia das empresas, no decorrer de tantos anos, teria recebido cerca de 122 milhões de reais e pede indenização de R$ 6 milhões por danos morais.

CONFIRA A REPORTAGEM NA ÍNTEGRA:

Uma ex-copeira do escritório de advocacia Almeida Advogados afirma em ações na Justiça ter sido usada como laranja pelo CEO da empresa, André de Almeida Rodrigues, em 46 empresas e offshores do doleiro Lúcio Bolonha Funaro. Algumas dessas empresas, segundo investigações da Lava Jato e a própria colaboração premiada de Funaro, foram usadas como veículos de lavagem de dinheiro e pagamento de propina a políticos e funcionários públicos. O escritório de André de Almeida e o advogado ganharam fama ao ingressar com ação coletiva em Nova York contra a Petrobras, em razão dos prejuízos causados a investidores da companhia pelos casos de corrupção descobertos na Lava Jato.

Bastidor teve acesso com exclusividade às ações impetradas pela ex-funcionária no Tribunal de Justiça de São Paulo e na Justiça do Trabalho do estado. Nas peças, Sildenisia Ferraz de Lima afirma ter assinado procurações e documentos societários nos 16 anos em que trabalhou no escritório. Disse ter agido assim por confiar no advogado André de Almeida. Segundo depoimento dela à Polícia, os papéis eram apresentados diretamente pelo advogado. Sildenisia assegura que não sabia do teor da papelada.

A copeira diz ter descoberto que era vítima somente em 2017, quando foi surpreendida em casa por agentes das polícias Federal e Civil em meio a investigações das operações Lava Jato e Barão de Gatuno. Admitiu o que sabia às autoridades e, ato contínuo, foi demitida do escritório por justa causa. Para comprovar o vínculo com o escritório, a ex-funcionária anexou sua carteira de trabalho aos autos dos processos. Também apresentou cópias de documentos da Receita Federal, nos quais aparece como sócia ou ex-sócia das 46 empresas. A defesa da copeira diz que, se ela tivesse sido administradora ou sócia de todas essas empresas, no decorrer de tantos anos, teria recebido, por baixo, cerca de 122 milhões de reais e pede indenização a ela de 6 milhões de reais por danos morais. Na Justiça do Trabalho, requer 452 mil reais.

André de Almeida, o ex-patrão de Sildenisia, é um advogado cada vez mais relevante no mercado financeiro e em causas envolvendo grandes empresas. Atua em operações de aquisições e incorporações para grandes bancos, como Goldman Sachs e Barclays. Também participa de reestruturações, como a da Sadia. Além da ação coletiva contra a Petrobras, participou de casos relacionados à Oi. Em entrevista recente, afirmou ter sido procurado por fundos e investidores para mover ações contra as Americanas.

No processo contra André de Almeida, Sildenisia acusa o ex-patrão de usá-la como instrumento "para dirigir manobras criminosas que interessavam ao Sr. Lúcio Funaro". Funaro é velho conhecido da Justiça brasileira. Em 2005, no auge do mensalão, foi apontado como operador de Valdemar Costa Neto. Antes disso, já havia sido investigado no caso Banestado, em 2003.

O doleiro chegou a ser preso em 2016, alvo da operação Sepsis, um desdobramento da Lava Jato. Ele operava junto com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, então no MDB. Ele cumpriu pena em regime fechado e domiciliar.

Investigações da Polícia Federal apontaram que Funaro era operador financeiro de políticos do MDB. Em 2017, o Supremo Tribunal Federal homologou seu acordo de delação premiada.

Na peça, a defesa de Sildenisia diz que "o Sr. Lúcio Funaro é proprietário de fato de todo o grupo empresarial, tal fato é facilmente constatado da análise das suas próprias declarações prestadas na delação premiada pactuada com a Procuradoria Geral da República".

Sildenisia afirma que, apesar de ter sido demitida do escritório em 2018, ainda sofre com os reflexos das acusações. Ela responde a processos cíveis como devedora de quantias milionárias e uma de suas contas bancárias foi bloqueada por uma dívida de R$ 20 milhões contraída por uma das empresas de Funaro. Quando foi demitida do escritório, ganhava 3 mil reais pro mês.

Ao ser desligada da empresa, de acordo com a ação, a ex-funcionária tentou contato com André de Almeida para “entender melhor o que estava acontecendo”. A defesa afirma que ele não a atendeu.

Bastidor procurou o escritório Almeida Advogados e seu proprietário, André de Almeida, mas não obteve retorno. O advogado Guilherme de Carvalho Doval, que defende André e Funaro, também não respondeu. O Bastidor não conseguiu contato com Funaro.

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