Incerteza nos mercados e expectativa de inflação em alta preocupam BC

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) mostrou preocupação com as incertezas nos mercados e as expectativas de inflação acima da meta.

Foto: Reprodução internet

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José Cruz/Agência Brasil/Arquivotype="_moz" />

"Avaliou-se, ainda, que não há evidência de que esteja em curso um aperto além do que seria necessário para a convergência da inflação para a meta e que o cenário ainda inspira cautela, reforçando a visão de serenidade e moderação que o Comitê tem expressado. O Comitê julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva", diz a ata.

"Enfatizou-se que a extensão do ciclo ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto [capacidade ociosa da economia] e do balanço de riscos [para a inflação futura]", acrescentou o BC.

As projeções de inflação do Copom são de 5% para 2023, acima do teto da meta, 3,5% para 2024 e 3,1 para 2025. Para fazer essas estimativas, o Banco Central adotou a hipótese de bandeira tarifária "verde" em dezembro desses três anos, além de taxa de câmbio partindo de R$ 4,9 e preço do petróleo seguindo a curva de alta pelos próximos seis meses e aumentando 2% ao ano posteriormente.

Em ata, o Copom ressaltou que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se uma maior persistência das pressões inflacionárias globais e uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado.

Entre os riscos de baixa de inflação estão uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.

"A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem parcial, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária", informou o BC.

Atividade econômica

O Copom ainda avaliou um conjunto de indicadores recentes que indica "maior resiliência da atividade econômica". Superando as projeções, no segundo trimestre do ano a economia brasileira cresceu 0,9%, na comparação com os primeiros três meses de 2023, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Em relação ao segundo trimestre do ano passado, a economia brasileira avançou 3,4%.

O Produto Interno Bruto (PIB - a soma dos bens e serviços produzidos no país) acumula alta de 3,2% no período de 12 meses. No semestre, a alta acumulada foi de 3,7%.

Segundo o BC, nos indicadores setoriais, observou-se alguma desaceleração no setor de comércio, moderada reaceleração na indústria e estabilidade do crescimento no setor de serviços, após ritmo mais forte nos trimestres anteriores. "O mercado de trabalho segue resiliente, mas com alguma moderação na margem", explicou.

Entre os fatores para o crescimento mais resiliente nos últimos trimestres, o Copom citou que a "pujança do setor agropecuário" tenha tido efeitos indiretos sobre outros setores na economia, "o que é corroborado nos dados, mas não justifica toda a magnitude da surpresa".

"Outra possibilidade é que a elevação de renda disponível, seja em função do dinamismo do mercado de trabalho, da queda de preços de alimentos ou de programas de transferência de renda, também tenha fornecido algum suporte para o consumo. O Comitê se deteve sobre esse tema, identificado como muito relevante, e destacou que a conjectura de um crescimento sustentado pela elevação da renda é corroborada pela resiliência no consumo de serviços das famílias. Ademais, discutiu-se, consequentemente, o possível impacto que poderia ocorrer sobre a dinâmica da inflação de serviços em caso de um crescimento sustentado pela renda e pelo consumo", explica a ata.